Gestão: Crescimento acelerado do país faz crescer a pressão por resultados e leva muitas companhias a demitirem presidentes com um desempenho ruim.
Para Ivan de Souza, presidente da Booz&Company, CEOs de países emergentes, com economias em ascensão, são mais cobrados
A taxa de rotatividade de CEOs no Brasil é uma das mais altas do mundo. No ano passado, ela ficou em 16,8%, acima da média global de 11,6%. O país também foi um dos que mais demitiram presidentes pelo mau desempenho na condução dos negócios, ficando ao lado apenas da Índia e da Rússia.
O estudo mostra que 80% das substituições de CEOs no mundo em 2010 foram feitas por pessoas de dentro das organizações, que se mostraram mais eficientes na condução dos negócios. Os chamados 'insiders' geram uma taxa de retorno sobre o investimento (ROI) de 4,6% contra 0,1% dos que vêm de fora. "Eles conhecem melhor a capacidade da empresa para empreender outros negócios. Quem vem de fora geralmente tem uma leitura superficial e não sabe quais são as reais condições da equipe", diz Souza.
Embora os presidentes formados "em casa" tragam resultados melhores para os acionistas, em economias com crescimento acelerado, como a brasileira, a maior parte das substituições ainda é feita por profissionais trazidos do mercado. "As companhias não estão tendo tempo de preparar internamente sucessores para o primeiro posto", explica o presidente da Booz&Company.
Em mercados mais maduros, segundo ele, as empresas têm um banco de reservas maior de profissionais com experiências análogas às do presidente. "Um exemplo são executivos que comandam operações no exterior", diz. Nos países emergentes, é mais difícil formar líderes na mesma velocidade do crescimento das organizações. Souza, no entanto, acredita que a tendência é que a "prata da casa" seja mais valorizada por aqui também.
Outra característica dos sucessores eleitos na própria companhia é que eles ficam, em média, 7 anos no cargo - tempo considerado ideal pela maior parte dos conselhos de administração. Em contrapartida, os "forasteiros" deixam o comando após pouco mais de 4 anos. Comparando dados de dez anos atrás, quando a pesquisa foi realizada pela primeira vez, o tempo médio de permanência dos comandantes diminuiu de 8,1 anos para 6,6 em 2010.
A idade média dos CEOs na última década, no entanto, subiu. O estudo mostra que eles estão assumindo o posto com quase 53 anos, enquanto em 2000 isso acontecia aos 50. "Existe hoje uma maior valorização da experiência para lidar com situações extraordinárias", diz Souza.
O setor onde foi registrada a maior taxa de rotatividade de CEOs mundialmente no ano passado foi o de energia (16,3%), resultado superior à média global. Também foi a área na qual mais comandantes tiveram uma "saída forçada" (6,2%), o que significa que eles foram demitidos pelo fraco desempenho ou pediram para ir embora. "Tivemos uma grande variação no preço do petróleo, o que influenciou toda a cadeia de produção", afirma.
Embora a rotatividade de CEOs entre os emergentes tenha sido alta em 2010, a média global ficou 19% abaixo da registrada em 2009. Segundo o consultor, vários fatores são apontados para essa queda. Um deles é a maior presença de empresas chinesas (232) entre as grandes companhias pesquisadas. Na China, existe pouca troca de comando e apenas 5,2% das organizações registraram mudanças. "O fato de boa parte delas terem participação do governo chinês acaba garantindo essa estabilidade para os CEOs, assim como o baixo número de fusões e aquisições", explica Souza.
Outra razão para que os comandantes tenham permanecido mais tempo no cargo em 2010 em todo o mundo, exceto nos países emergentes, é porque muitos já haviam sido substituídos após a crise - especialmente entre 2008 e 2009. "Foi um movimento recente. Alguns estão começando a mostrar resultados só agora". Além disso, aqueles que conseguiram sobreviver às turbulências econômicas ganharam a confiança dos conselhos de administração para continuar no comando. "A tolerância em períodos de instabilidade econômica é maior. Os acionistas entendem que fatores associados ao desempenho estão fora do controle imediato dos CEOs", afirma.
Um novo aspecto abordado nessa edição da pesquisa foi a análise da influência do modelo de negócio no tempo de permanência no cargo. "Identificamos que quanto mais próximo da operação, mais exposto ele fica e seu tempo no posto se reduz". Por outro lado, um CEO responsável por uma holding com várias unidades fica um período mais longo no cargo, pois quando as coisas vão mal, ele demite os responsáveis por esses negócios. "Seu papel é visto de outra maneira e ele está mais blindado", afirma.
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