terça-feira, 17 de maio de 2011

Os desafios da boa governança

"A partir do momento que o interlocutor mente uma vez, na segunda vez o mercado já não vai acreditar no que ele está falando", disse Eliane

A governança corporativa é importante para um mercado de capitais mais justo, transparente e eficiente.
A economista Eliane Lustosa, coordenadora-geral do Capítulo Rio do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), aponta a transparência na administração das empresas como fundamental.
Eliane foi diretora de investimentos do fundo de pensão Petros, vice-presidente de finanças da Abril e diretora financeira da Globex (Ponto Frio) e da LLX Logística. Atualmente, é sócia da Triscorp, uma gestora de recursos.

As empresas com melhor governança corporativa tendem a ter um valor mais alto que aquelas nas quais a governança é fraca? Existem evidências empíricas ou estudos econométricos já feitos?
Essa é a crença do IBGC e a minha particular. Você tem índices, como o de governança corporativa que acompanha empresas no Brasil, e você identifica que justamente a evolução de rentabilidade desses índices é maior do que os índices da Bovespa.
Recentes estudos fizeram uma avaliação sobre justamente quanto que governança corporativa cria valor, quanto que as empresas que entraram nos mercados listados com boas regras de governança, quanto que isso agregou valor.
A conclusão é que reduz significantemente o custo de capitação das empresas listadas nesses mercados. Atualmente, a gente já identifica que se uma empresa vai fazer uma abertura de capital fora do novo mercado, ela tem que ter uma justificativa muito boa para não fazer no novo mercado.

No último ano, um dos tópicos mais controversos dos mercados de capitais foi o debate do quanto que as empresas devem ser obrigadas a divulgar sobre a remuneração dos executivos.Qual sua opinião sobre isso?
Por que é importante informar a remuneração? Para evitar que, em alguns casos, possa haver abuso, que a remuneração não seja condizente com o papel e a função de determinados administradores.
A informação é importante para que o mercado tenha luz, transparência na relação e na definição de preços, para evitar que haja abusos. Porque no fundo você está tirando dinheiro do caixa da empresa para determinadas pessoas.
O outro lado do debate diz o seguinte: temos um problema de segurança no Brasil, então essa informação não deve ser passada para o mercado. Tem certas pessoas que não é preciso saber quanto ganha porque exercem funções relevantes e você já pode assumir que essas pessoas tenham remuneração significativa.
No caso do código de melhores práticas, você não necessariamente precisa informar remunerações individuais. Mas é muito importante que seja informada, separando conselho de administração da gestão, qual é a remuneração média do conselho, citando benefícios e explicar se tem alguma variação em relação a essa média significativa

A existência de um Comitê de Remuneração subordinado ao conselho de administração é mandatório?
Não é mandatário, mas é uma boa prática que o conselho tenha os seus comitês e que eles tenham tempo para avaliar as questões do conselho.
É uma boa forma de ajudar o conselho a tomar as decisões, que é a mesma coisa que o comitê de auditoria.

Reportar as médias do conselho e da administração, você acha que foi uma boa solução?
Eu acho que foi uma boa solução, é fundamental informar se a média tem alguma discrepância e explicá-la.

Os conselheiros independentes estão no conselho das empresas para representar os minoritários. Você acha que os independentes no Brasil estão fazendo um bom trabalho?
O conselheiro independente é relevante, porque ele é aquela pessoa que vem de fora e olha apenas para os interesses da empresa. Ele precisa atuar sem constrangimento.

A cultura da cordialidade brasileira trabalha contra isso não é?
Pois é, aí eu acho que o trabalho da CVM é muito importante, porque já puniu conselheiro por ficar em cima do muro, sendo que ele tinha o dever de se posicionar.
Do outro lado, a educação dos conselheiros é fundamental, porque nem todos que atuam na área sabem das suas responsabilidades.

Você mencionou o papel da CVM fazendo com que a lei valha. E o papel dos investidores institucionais?
Os investidores têm um papel fundamental. O acompanhamento dos investidores, a interface com as áreas de RI, é um parâmetro muito considerável.

Existe algum instrumento que fiscalize o diretor financeiro e o presidente das empresas quando falam com o mercado?
Na economia tem um termo chamado moral hazard, perigo moral. A partir do momento que o interlocutor mente uma vez, na segunda vez o mercado já não vai acreditar no que ele está falando. O mercado vai dar um desconto



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