Somente canaviais já existentes podem elevar oferta em 10%, diz Mizutani
Com mais de 95% de sua moagem de cana concentrada no Estado de São Paulo, a Raízen, empresa resultante da fusão da Cosan com a Shell, enfrenta, assim como todo o setor, o desafio de aumentar a oferta de cana-de-açúcar e fazê-la caminhar junto com a capacidade industrial.
Pedro Mizutani, vice-presidente executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen, explica, sem mencionar números da próxima safra, que a empresa busca diminuir a distância entre a capacidade industrial e a disponibilidade de cana, sobretudo em São Paulo, onde a terra é mais cara e as áreas mais escassas. Ele é econômico em dados, uma vez que a empresa está em período de silêncio por conta da divulgação do balanço.
Nesta safra, o Estado de São Paulo será o único no Centro-Sul a ter menos cana do que no ciclo anterior. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) prevê 4 milhões de toneladas a menos. "É das regiões novas que está vindo o crescimento em volume de cana, sobretudo das usinas construídas a partir de 2009", avalia.
Mas Mizutani se diz otimista com as condições de expansão em cana também em São Paulo. Ainda há pastos que podem ser convertidos em canaviais, em especial na região oeste do Estado.
No curto prazo, explica o executivo, apenas com investimentos em canaviais já existentes é possível encorpar em 10% a oferta da matéria-prima. "A plantação da cana foi duramente castigada em 2010. Recuperá-la já traz um salto expressivo", afirma.
O déficit de cana de todo o Centro-Sul - que responde por 90% do processamento no Brasil - é da ordem de 50 milhões de toneladas. A capacidade industrial, diz o executivo está na ordem de 620 milhões de toneladas, enquanto a cana disponível deve atingir nesta safra 568 milhões, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). "Essa disparidade vai acabar em três anos", prevê Mizutani.
Alguns agentes do mercado ainda olham com desconfiança para essa previsão, que indica processamento 2,1% superior ao da temporada passada. Usinas relatam que o nível de açúcar contido na cana, o chamado ATR (Açúcar Total Recuperável) ainda está muito baixo neste início de safra, por volta de 112 a 113 quilos por tonelada, quando a média esperada para este início de moagem é de 120 quilos de ATR por tonelada. "Mas a cana vai se recuperar no segundo semestre", diz.
Mesmo com uma safra um pouco maior do que a passada, as perspectivas são de preços bons, tanto para açúcar como para etanol, segundo o executivo. O hidratado, que abastece diretamente os veículos, deve ter preços próximos de 70% do valor da gasolina, o que tende a imprimir mais equilíbrio entre oferta e demanda.
Uma dose de instabilidade pode vir da decisão do governo de alterar a margem para a mistura de anidro na gasolina. Ela era de 20% a 25% e agora está entre 18% e 25%. A medida, que ainda precisa ser regulamentada, trará insegurança para toda a cadeia, na avaliação de Mizutani. "Um distribuidor terá sempre dúvidas sobre quanto comprar mais no longo prazo, pois os volumes a serem misturados [de anidro à gasolina] podem aumentar ou diminuir com mais intensidade", pondera ele.
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