terça-feira, 31 de maio de 2011

Crédito cresce menos, mas preocupa

Juros sobem e ritmo de aumento de financiamentos cai, porém ainda há dúvidas se a desaceleração será suficiente para conter a inflação

O crédito ficou mais caro, com mais calotes, e cresceu em um ritmo considerado adequado pelo Banco Central nos primeiros quatro meses do ano. Mas a alta nos últimos 12 meses encerrados em abril no estoque de financiamento reforçou as dúvidas sobre se o governo conseguirá de fato desacelerar o crédito para 10% a 15% de expansão neste ano, faixa considerada ideal para colocar a inflação de volta na meta.
Segundo dados divulgados ontem pelo BC, o estoque de crédito atingiu R$ 1,78 trilhão em abril, o equivalente a 46,6% do PIB. O saldo mostrou crescimento de 4,1% no ano (em torno de 13% em termos anualizados), mas em 12 meses ainda tem forte expansão: 21%. Os juros no crédito livre subiram pelo quinto mês seguido, atingindo a marca de 39,8% ao ano e já superando os 40% nos dados parciais de maio.
O desempenho do crédito no início do ano reflete o dilema do governo no front inflacionário. Enquanto os dados correntes mostram números relativamente moderados, os dados em 12 meses apontam um desempenho ainda muito intenso e fora do almejado pela equipe econômica, alimentando o debate sobre se o processo inflacionário está sendo controlado.
Embora o desempenho dos quatro primeiros meses do ano esteja no nível desejado pelo BC, em igual período do ano passado, quando ainda não havia medidas de aperto no crédito e alta dos juros, a expansão foi até um pouco menor: 3,8%. Depois, o ritmo se acelerou e encerrou 2010 com alta acima de 20%.
Além disso, o desempenho moderado se deve mais à perda de vigor nos financiamentos do BNDES do que por um tranco nos financiamentos com recursos livres, aqueles voltados mais diretamente ao consumo, que o governo pretende conter.
O chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, garantiu que no segundo semestre o ritmo do crédito será menor do que em igual período de 2010, levando a uma redução na taxa de 12 meses. A questão é se esse cenário vai se confirmar.
O BC deve continuar a elevar os juros e há quem defenda novas medidas de contenção de crédito. Uma das hipóteses aventadas por uma fonte do governo seria limitar os prazos e restringir a entrada do financiamento, proposta que tem fortes resistências dentro e fora do governo. Com o recuo da inflação esperado para os próximos meses, há preocupação que uma volta do otimismo alimente nova escalada do crédito.
Em relatório para clientes, a consultoria Rosenberg Associados enxerga um processo de arrefecimento moderado do crédito neste ano. Mas duvida que ele fechará o ano na meta do BC. "Continua prevalecendo a leitura de que a política monetária deverá continuar contracionista para garantir uma desaceleração do crédito e da atividade condizente com níveis de inflação mais próximos da meta em 2012."

Areva continua a ver demanda para energia nuclear

A francesa Areva SA aposta numa retomada mundial da energia nuclear, mesmo com os efeitos da crise no Japão continuando a reverberar.
Ontem, a Alemanha se tornou o grande primeiro país industrializado a anunciar que vai desativar suas usinas nucleares, depois do desastre na usina japonesa Fukushima Daiichi. Uma decisão que pode prejudicar o principal negócio da Areva nos próximos anos.

Com os governos sob pressão para reconsiderar a energia nuclear, a presidente executiva da Areva, Anne Lauvergeon, está fazendo campanha para manter seu emprego e salvar a reputação do setor. "Depois de Fukushima, o mundo não está dizendo 'Não' para a energia nuclear", disse Lauvergeon ao Wall Street Journal. "Está só dizendo que a energia nuclear não é para todo mundo (...) e que isso terá um preço."

Os governos do mundo todo enfrentam um dilema: depender exclusivamente de combustíveis fósseis poluentes e energias renováveis, ou apoiar projetos para pagar mais por usinas nucleares mais seguras, que podem ter uma recepção negativa entre os eleitores. O resultado disso pode definir o sucesso da Areva, uma das maiores empresas de engenharia nuclear do mundo.

Na última década, a Areva, cujos negócios incluem minas de urânio e reciclagem de lixo nuclear, gastou bilhões de euros desenvolvendo o que a empresa descreve como reatores ultraseguros.

Lauvergeon diz, que apesar da crise nuclear do Japão, os governos, especialmente de países emergentes, não irão virar as costas para a energia nuclear. Ela espera que as empresas de eletricidade estejam dispostas a pagar mais por reatores com dispositivos adicionais de segurança. "O mundo pós-Fukushima não é o mesmo mundo pós-Chernobyl ou pós-Three Mile Island", diz. "Hoje vivemos num mundo em que os combustíveis fósseis estão mais caros e continuarão cada vez mais caros."

Muitos analistas e alguns clientes disseram que a última geração de reatores da Areva, que custam aproximadamente 6 bilhões de euros, ou cerca de US$ 8,5 bilhões cada, são muito caros para serem competitivos. "Estávamos num mundo maluco", onde alguns investidores não estavam preparados para pagar por mais segurança, diz Lauvergeon.

A reação ao desastre nuclear no Japão foi variada. Enquanto a Suíça e a Alemanha decidiram desativar usinas nucleares, países como Reino Unido e Polônia preferiram seguir com esse tipo de energia. "O futuro da indústria permanece relativamente saudável em mercados em crescimento", como China, Índia e Brasil, segundo um relatório publicado pelo analista de energia Will Pearson, do Eurasia Group.

Lauvergeon classificou a decisão da Alemanha como "política" e diz que o cenário pode mudar "de agora até 2022", quando a última usina alemã deve ser desativada. Em 2010, a Alemanha respondeu por cerca de 10% das vendas de 9,1 bilhões de euros da Areva. Ela acredita que os países emergentes com crescentes demandas por energia, em particular China, Índia e África do Sul, continuarão investindo em energia nuclear.

Lauvergeon, de 51 anos, pode não ficar tempo suficiente no cargo para ver sua estratégia dar frutos. O governo francês, que direta e indiretamente detém uma participação de 93% na Areva, vai decidir em junho se renova ou não o contrato dela. O aumento dos custos das obras em andamento, a perda de um contrato importante em Abu Dhabi e disputas com os principais executivos de elétricas francesas diminuíram as chances de que ela fique no cargo, segundo pessoas no setor.

BNDES desacelera ritmo em 2011, diz Coutinho

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou que o volume de desembolsos da instituição este ano poderia atingir R$ 170 bilhões caso não houvesse um freio, com a abertura de espaço para o mercado privado assumir parte da conta de empréstimos de longo prazo no país. De acordo com o executivo, o total desembolsado pelo BNDES este ano deverá girar em torno de R$ 145 bilhões, em linha com o que foi emprestado no ano passado.

"Temos estoque aprovado de projetos. Tínhamos no ano passado em torno de R$ 175 bilhões e está em torno de R$ 178 bilhões hoje. O estoque de projetos aprovado continua crescendo, mas obviamente nós reduzimos aquela parcela financiável pelo BNDES exatamente para abrir espaço para o mercado e para moderar o nosso desembolso neste ano de 2011", afirmou Coutinho, que participou do Rio Investors Day, no Rio de Janeiro. "Foi uma decisão tomada que está sendo implementada e, aparentemente, estamos conseguindo resultado", acrescentou.

Coutinho afirmou ainda que os investimentos ao longo dos próximos quatro anos na economia brasileira deverão totalizar R$ 3,2 trilhões, atingindo, ao final do período, em 2014, patamar próximo a 23% do Produto Interno Bruto (PIB).

"É um número para sustentar o crescimento de longo prazo sem pressão de inflação", disse Coutinho.

O executivo defendeu ainda um processo de desindexação da economia brasileira, de forma a acabar com um combustível que alimenta as taxas de inflação. Apesar da defesa, Coutinho ponderou que o processo deve ser feito de forma a não romper o respeito aos contratos. Ele lembrou que uma boa alternativa para as concessões de serviços públicos é mudar as regras de indexação na ocasião em que os contratos preveem a discussão das normas que regem as tarifas.

"Certamente algumas das regras de indexação podem e devem ser aperfeiçoadas e mitigadas", destacou Coutinho, lembrando que alguns índices como os IGPs "não são adequados" porque misturam índices híbridos. "Mas essa é uma matéria para discussão técnica e que terá que ser feitas consultando os vários interesses e respeitando as regras".

Também presente ao evento, o diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, confirmou que todo o debate com o mercado em relação a uma possível indexação tem sido travado "no mais absoluto respeito aos contratos."

"O ideal é que a gente consiga, a médio prazo, sair de regimes de indexação que a gente tem hoje, à Selic, ao DI. Que no longo prazo a gente consiga estabelecer formas de atuar e não fazer nenhum tipo de violência e que se consiga migrar para lá a quatro mãos", frisou Mendes.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Petróleo voltará a US$ 120, dizem bancos

Após período de "ajuste" nos preços, instituições recomendam compra diante de perspectiva de oferta apertada

Para 2012, estimativas chegam a US$ 140; mercado reage e preço do barril tem alta de 2% em Londres
Dois grandes bancos de investimento elevaram, ontem, as suas estimativas para o preço do petróleo neste e no próximo anos.

Apesar de incerto no curto prazo, o cenário é de oferta apertada, o que elevará as cotações, segundo analistas do Goldman Sachs e do Morgan Stanley.

Pouco mais de um mês após prever que o barril do tipo Brent cairia de US$ 120 para US$ 105, o Goldman agora estima que ele voltará aos US$ 120 neste ano.
A previsão para os próximos 12 meses passou de US$ 107 para US$ 130 e a expectativa para o fim de 2012 foi de US$ 120 para US$ 140.


O Goldman considera que a recente queda de preços -em 30 dias o Brent perdeu 9%- trouxe as commodities a nível mais condizente com o crescimento econômico.


Mas isso não significa menor demanda por óleo. A avaliação é que as cotações estavam influenciadas pela expectativa de um choque de oferta devido às tensões no Oriente Médio e na África.


"Apesar de a economia ter desacelerado para um ritmo mais lento, mas sustentável, esperamos que o crescimento econômico seja suficiente para deixar a relação entre oferta e demanda apertada no segundo semestre deste ano, provocando preços mais altos", diz o banco.


O Morgan também aumentou a sua estimativa para o Brent para US$ 120 em 2011 e US$ 130 por barril em 2012 -as projeções anteriores eram de US$ 100 e US$ 105, respectivamente.


Além do aumento da demanda pelos emergentes, o banco cita a ausência da produção da Líbia como fator de alta. Sem um aumento da produção da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), os estoques cairão no segundo semestre.


O Goldman Sachs acrescenta que, com a Líbia fora do mercado, a capacidade de produção excedente da Opep chegará à exaustão no início do próximo ano.


EFEITOS
As recomendações de compra pelos dois bancos resultaram em aumento de preço do Brent, que fechou em alta de 2,21%, a US$ 112,53. O WTI avançou 1,93% e atingiu US$ 99,59 por barril.
O preço mais alto do petróleo contribuirá para um crescimento econômico mais modesto na China. Em outro relatório, ontem, o Goldman Sachs cortou a previsão para o PIB chinês de 10% para 9,4% em 2011 e de 9,5% para 9,2% em 2012.

Plano para etanol deve ser levado a Dilma em dez dias

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que o governo vai preparar um plano para o etanol a ser apresentado em dez dias à presidente Dilma Rousseff com o objetivo de evitar que se repitam, em 2012, os problemas de abastecimento verificados este ano. No início de 2011, houve crise de abastecimento e alta do preço do etanol durante a entressafra.

Lobão disse que Dilma recomendou a ele e ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que sejam tomados todos os cuidados para evitar que os problemas se repitam no próximo ano. Segundo ele, os ministérios de Minas e Energia, Fazenda, Agricultura e Indústria e Comércio estudam um plano conjunto que, além do etanol, vai incluir o açúcar. "Ficamos de elaborar o plano dentro de dez dias para levar a ela [à presidente], a quem caberá decidir", disse Lobão.

Ele fez a declaração em visita ao campo de Peregrino, na Bacia de Campos (RJ), onde a norueguesa Statoil começou, oficialmente, a produção de petróleo no país.
Segundo Lobão, o plano para o etanol poderá incluir formação de estoques reguladores. Devem ser feitas reuniões com produtores e distribuidores, disse.

 Lobão disse que a possibilidade de a Agência Nacional do Petróleo (ANP) passar a controlar a produção de álcool será considerada. "A ANP já tem autorização legal para fazer isso e a ideia é ampliar o quadro de funcionários da agência para atender as exigências da legislação."

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Todos temos culpa pela crise de abastecimento do etanol"

Eduardo Carvalho: falta planejamento ao governo e usinas têm de assumir sua responsabilidade no abastecimento

Antes de mergulhar nos temas que nortearam o pedido de entrevista feito pelo Valor, Eduardo Pereira de Carvalho discorre sobre a velocidade da informação e a ansiedade do mundo moderno. Puxa pela memória, volta ao início da década de 70 e se lembra do dia em que estava no gabinete de Delfim Netto, então ministro da Fazenda, à espera de um documento. Coordenador da assessoria econômica do ministério nessa época de governos militares no Brasil, Carvalho estava ansioso. Não com o papel em si, mas porque ele seria transmitido por telefone. "Era o fax", gesticula. "Foi como um milagre!".

O prólogo pontua a profundidade das mudanças testemunhadas pelo economista nas últimas décadas. O mundo mudou, e não apenas graças ao desenvolvimento de novas tecnologias. As relações sociais, políticas e econômicas mudaram, e o segmento no qual atuou durante décadas, o sucroalcooleiro, hoje também é outro. Aos 73 anos, esforçando-se para conter declarações intempestivas, Carvalho busca no passado explicações sobre as atuais relações do segmento com o governo e a crise de preços do etanol - que, aparentemente, colocou os antigos "parceiros" em rota de colisão.

Presidente por sete anos da Unica, que representa as usinas de açúcar e álcool do Centro-Sul do país, Carvalho foi sucedido por Marcos Jank há três anos, mas continua como conselheiro da entidade. E avisa: não há mocinhos ou bandidos nessa crise. Mesmo amenizadas nos últimos dias pela queda dos preços do etanol nas usinas e nas bombas, divergências afloraram e alimentaram o que usineiros e executivos classificaram como um viés intervencionista do governo já há tempos esquecido.

"[Nesse ponto], vejo semelhanças enormes entre esse governo e o militar do qual participei e assisti", diz, consciente de que pode ser taxado de herege. "Eles estão muito mais ideologicamente próximos do que a sociedade supõe". Para ele, a afirmação traz menos julgamentos do que parece. Implantar um programa de alternativa energética ao petróleo, como foi o Proálcool, só podia ter sido realizado por um regime autoritário, explica o executivo. "O Brasil importava 80% de sua demanda pelo combustível fóssil. O que ia acontecer com a energia em 50 anos era uma preocupação do governo".
"O consumidor estava habituado a usar etanol quando o preço subiu. Ele não muda com centavozinhos"

No entanto, continua, o que aconteceu depois da redemocratização do país é que "planejamento estratégico" virou "palavrão". "Passou a ser coisa de militar", afirma. Mas, depois dos recentes problemas de abastecimento que tanto irritaram a presidente Dilma Rousseff e que renderam ameaças perturbadoras ao segmento, como a taxação das exportações de açúcar, a expressão voltou à baila. "Falta planejamento. Cara feia não produz álcool", afirma Carvalho. "O apagão foi apenas um dos exemplos desse caos. Mas tenha certeza de que outros ficaram escondidos".

Se o governo padece de falta planejamento, diz, as usinas pecam por se esquivar da responsabilidade sobre o abastecimento. Desde o primeiro Proálcool, lembra, os donos de usinas acham que essa responsabilidade é só do governo. "O setor passou por mais de uma crise séria de abastecimento, e isso, lá atrás, quase acabou com o Proálcool. Todos temos culpa pelo que vimos na entressafra: governo, usinas, distribuidoras...".

Mas houve surpresas. No começo da era "flex", lembra, as conversas reservadas com o governo chegavam à conclusão de que não havia motivos para preocupações com o álcool hidratado, pois se o preço subisse o consumidor poderia "girar a chave" e usar gasolina. Mas, na última entressafra, o motorista brasileiro mostrou que o "homo economicus" só existe na cabeça dos economistas. "Somos de carne e osso. O consumidor já estava habituado a usar etanol quando o preço subiu. Ele não muda com 'centavozinhos'. A migração demorou e teve que ter mídia de massa apontando que não estava mais vantajoso abastecer com álcool".

Com as crises de abastecimento nas décadas de 80 e 90, o termo "usineiro" ganhou conotação fortemente negativa. Mais recentemente, as entidades de classe do segmento investiram em marketing para tentar mudar a imagem desse empresário e, entre outras medidas, aboliu a palavra de seu vocabulário. Mas foi só emergir uma nova crise de abastecimento para o termo voltar ser usado pelos críticos como sinônimo de agente não cumpridor de acordos.

Especialistas consultados pelo Valor nos últimos meses foram quase unânimes em afirmar que, quando o assunto é abastecimento, dificilmente as usinas sucroalcooleiras são surpreendidas. E que, no caso específico do etanol, a própria estratégia de correr riscos de carregar estoques para vender na entressafra está baseada no monitoramento constante e minucioso dos dados de produção e consumo. Hoje também à frente de uma consultoria que atua no ramo, Carvalho evita o tema para não entrar em polêmicas que signifiquem abrir o conteúdo das discussões fechadas dos agentes do segmento.

Fácil ou difícil, Carvalho defende a retomada do diálogo entre usinas e governo. O ex-presidente da Unica reconhece, entretanto, que as condições mudaram radicalmente e num espaço de tempo muito curto. Em duas entressafras, no início e em meados do governo Lula, os dois lados sentaram para conversar. "Em uma delas, o PT tinha acabado de assumir. Não sabiam nem onde era o banheiro mas, de cara, o Lula nos chamou para dizer que as usinas não tomariam conhecimento de medidas que as afetassem pelos jornais. Mas avisou que o governo também não queria ser surpreendido".

O governo mudou, mas o segmento também não é o mesmo. "A figura do usineiro é história do passado". A forte entrada de empresas estrangeiras na área alterou o relacionamento no lado privado e deste com o poder público. "Há sete anos, para mobilizar o setor você ligava para o Binho [Rubens Ometto, da Cosan], para o Maurílio [Biaggi, da Moema] e para o Hermelindo [Ruete, da Copersucar]. Hoje, como se faz isso? Quem comanda as multinacionais não é o pessoal que está aqui".
Há sete anos, completa Carvalho, os cinco maiores grupos tinham de 10% a 12% do segmento; hoje eles têm 28% e "amanhã terão 40%". "Qual é o endereço da decisão?", pergunta. Para ele, a falta de um interlocutor com o governo que garanta o cumprimento de acordos não pode significar a renúncia do potencial de produção energética do segmento. "Sabemos que muitos no PT não gostam de estrangeiros. Mas a relação tem que se estreitar".

Essa é a essência da função política, diz Carvalho: mediar interesses, identificar o que é de interesse público. "Político não é para achacar dinheiro de usineiro na hora da campanha e nem para roubar merenda escolar". Mas ele concorda que a recente crise de abastecimento foi desgastante. "Não avisaram o governo. Por outro lado, o produtor está indignado porque a posição do governo prejudica o clima de investimentos - que, continuarão, em sua maioria, vindo de fora".

Linha de crédito financiará renovação de áreas de cana

Agroenergia: Medida ainda é rescaldo da 'inflação do etanol' na entressafra

"A renovação é importante para o abastecimento de etanol", diz Wagner Rossi

Ainda de olho no rescaldo da inflação provocada pelo etanol na entressafra, o governo decidiu criar uma linha de crédito para financiar a renovação das plantações de cana-de-açúcar por indústrias e produtores independentes. A medida será incluída no Plano de Safra, em junho, informou o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, ao Valor.

Ancorada na elevação da oferta de cana para a produção de etanol, a nova linha buscará elevar a produtividade, via incentivos à adoção de tecnologia nos canaviais. Mas terá forte ênfase no aspecto ambiental, associando a recuperação de terras degradadas e redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa.

"Houve uma perde de produtividade que precisamos recuperar com financiamento adequado para estimular investimentos", afirma Rossi. A linha foi desenhada para embutir um "impacto ambiental positivo", diz ele. "A renovação dos canaviais é importante para o abastecimento de etanol e a garantia de ganhos de produtividade maiores, além de um estímulo ao uso de mais tecnologia".

A linha fará parte do programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), cuja taxa de 5,5% ao ano é inferior aos 6,75% cobrados no crédito rural oficial. As ações do ABC têm limite de financiamento de R$ 1 milhão por beneficiário e prazo de 12 anos para pagamento. Criado em 2010, o ABC visa a reduzir a emissão de até 163 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera. Também busca recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e estimular o plantio de até 9 milhões de hectares de florestas.

A forte alta de preços do etanol no início do ano, associada aos riscos de desabastecimento, levaram a presidente Dilma Rousseff a classificar o combustível como "estratégico" para aumentar o poder de intervenção no mercado. Por determinação de Dilma, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) assumiu a fiscalização e passou a regular o segmento. O intervalo da mistura de etanol anidro à gasolina foi elevado, de 20% a 25% para 18% a 25%. A presidente ordenou a Petrobras a acelerar seus planos de investimento na produção de etanol. Por fim, determinou a redução de preços à BR Distribuidora.

O governo mantém cautela em relação aos preços internos do etanol. E quer ter garantia de geração de excedentes para exportação do combustível, símbolo de alternativa limpa e renovável para o abastecimento energético mundial.
A desaceleração dos investimentos em usinas no Brasil preocupa o governo. Atingidas pela crise global de 2008, várias indústrias foram vendidas a estrangeiros. Em dificuldades para injetar mais recursos no segmento, as multinacionais preferiram aguardar.

De lá para cá, poucas arriscaram elevar suas apostas na produção. Agora, o governo quer estimular o investimento em canaviais. E tem a garantia de que isso ocorrerá dentro de padrões ambientais seguros, já que fez um zoneamento econômico-ecológico identificou 64 milhões de hectares de terras aptas ao cultivo da cana-de-açúcar - 20 milhões com "alta aptidão".

O ministro Wagner Rossi informou, ainda, que planeja a criação de uma linha de crédito para financiar a estocagem de suco de laranja. O objetivo é evitar as fortes oscilações de preços e prejuízos ao produtor derivados da oferta abundante de laranja no auge da safra. "Queremos garantir o suprimento interno, com foco na merenda escolar, e o fluxo comercial das exportações", afirma Rossi. A indústria, formada por quatro grandes empresas, resiste à ideia, segundo o ministro. "É um grupo pequeno, de grande protagonismo, que tem condições de fazer prevalecer seus interesses. Mas é gente respeitável e vamos conversar".

O presidente do Sindicato Rural de Bebedouro, José Oswaldo Junqueira, afirma que a armazenagem climatizada tem "custo muito alto" e que uma razão para a queda dos preços é justamente a formação de estoques. "As empresas ganham mais poder", avalia Junqueira. O custo para estocar uma tonelada de suco custaria entre US$ 800 e US$ 1 mil. "É o equivalente à produção de uma tonelada", diz.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Agronegócio teme ingerência do governo

Instituto diz que ameaça de taxar exportação de açúcar e restrição a estrangeiros sinalizam intenção de controle do setor

Agronegócio se une em torno de "rede de conhecimento", a ser lançada em junho, para defender o setor
André Nassar, economista e presidente do Icone, em seu escritório; instituto quer levantar novo debate no agronegócio

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

A ameaça recente de taxar as exportações de açúcar, em reação à alta do preço do álcool, e as restrições impostas à compra de terras por estrangeiros podem ser interpretadas como sinais de maior ingerência política sobre o agronegócio.
A avaliação é de André Nassar, diretor-geral do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais), coordenador de uma "rede de conhecimento" sobre o agronegócio que será lançada em 9 de junho.


Representantes de vários segmentos do agronegócio, da celulose à soja, também integrarão o grupo, que mantém o nome em sigilo.
Além da possibilidade de o governo aumentar a sua presença no agronegócio em uma fase de valorização dos produtos agrícolas, o movimento pretende levantar outras discussões pertinentes ao setor, como conservação ambiental, aumento da produção, investimentos e questões trabalhistas e indígenas.

Veja os principais trechos de entrevista à Folha.
Brasil, celeiro do mundo?
Acho que há gente dentro do governo que considera que não é necessária uma grande expansão do setor agrícola para atender à demanda mundial (por alimentos).
A avaliação é que, para a economia brasileira, o benefício é pequeno. Para o ambiente, é ruim, e, para a geração de empregos, não é o setor mais empregador.


Restrição a estrangeiros
Segurar o capital estrangeiro pode ser uma forma de frear a expansão agrícola. É problema para o fabricante de celulose, por exemplo, em que o plantio é parte do negócio.
Se houver restrição ao investimento, o crescimento será menor e ainda seria bom para o país, porque o ideal é que quem se aproprie do recurso natural brasileiro seja o capital nacional. Acho que tem essa lógica por trás. Esse é um debate para enxergar.


Ingerência política
Se a expansão agrícola for muito forte nos próximos anos, o governo vai querer taxar exportação, pela motivação arrecadatória e pela soberania e agregação de valor.
O discurso pode ser que o setor está crescendo demais, gerando impacto ambiental, ou que ele está com uma margem de lucro enorme.
Então, faria sentido abocanhar um pedaço. Falou-se naquela história do açúcar... Há setores que são energéticos. O pré-sal não é todo regulado? O governo pode dizer isso também.

Inflação
Veja qual é a justificativa para a inflação, hoje, do Ministério da Fazenda: commodities. Então pode-se taxar exportação, para fazer o preço cair. São temas que formam um novo debate, e é um debate sofisticado.
Por isso, é preciso ter uma iniciativa global do agronegócio. E isso está no coração das coisas que vamos fazer.



Empresário está menos otimista, mostra CNI

O empresário industrial está menos otimista com o desempenho da economia. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 1.819 empresas mostrou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) ficou em 57,5 pontos em maio, inferior 2,2 pontos em relação a abril e 8,8 pontos menor em comparação ao resultado de maio de 2010.

O Icei varia de zero a cem e pontuações superiores a 50 indicam otimismo. A CNI salienta que a redução de 2,2 pontos entre abril e maio foi a maior em dez meses considerando bases de comparações com meses imediatamente anteriores.

"O Icei de maio mostra que o industrial avalia que a economia está andando de lado, em menor ritmo. Isso não significa que esteja havendo queda na produção. Mas a redução da confiança pode, claramente, levar os empresários a rever planos de investimento", advertiu o gerente de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.
O recuo do indicador foi influenciado pela percepção dos industriais de que as condições da economia brasileira pioraram em relação aos últimos seis meses. Esse componente específico do Icei ficou em 44,9 pontos nesta última medição, inferior a 50 pontos, fato que indica falta de confiança.

Fonseca lembrou que o nível de confiança do industrial vem diminuindo gradativamente desde meados de 2010. Ele lembrou, contudo, que apesar da redução do Icei os industriais continuam otimistas. Uma das explicações é que esperam por um desempenho melhor dos negócios no segundo semestre em relação aos primeiros seis meses do ano.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Indicador do BC mostra economia acelerada no primeiro trimestre

Ritmo de crescimento é de 5,2%, o que pressionaria a inflação, mas técnicos do BC dizem que começam a surgir sinais de desaceleração

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou aceleração da economia brasileira no primeiro trimestre de 2011 e reforçou as preocupações do mercado financeiro com o impacto do aquecimento econômico sobre a inflação.
Criado para antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), que é divulgado pelo IBGE com maior defasagem, o IBC-Br registrou alta de 1,28% (descontados os efeitos sazonais) na média de janeiro a março em comparação com a média do quarto trimestre do ano passado.
Anualizando-se o resultado, o ritmo de crescimento econômico apontado pelo índice no primeiro trimestre foi de 5,2%, que estaria acima do que o mercado, em média, considera como potencial de expansão do País (4,5%). No quarto trimestre do ano passado, o IBC-Br teve alta de 1,03% ante os três meses anteriores, o que representou expansão anualizada de 4,2%.
Apesar da clara aceleração na margem, o BC defende, nos bastidores, outra leitura do seu índice, que mostraria um processo de perda de ritmo da economia. Segundo fonte da área técnica, uma análise comparando a evolução trimestral do IBC-Br contra igual período do ano anterior evidenciaria trajetória de desaceleração da economia que, na visão dessa fonte, deverá continuar nos próximos trimestres.
A fonte usou dados mostrando que, no primeiro trimestre de 2010, o indicador teve alta de 9,84% ante igual período de 2009; no segundo, alta de 9,49%; no terceiro, 7,22%; no quarto trimestre, 4,82%; e no primeiro trimestre de 2011, dado divulgado ontem, 4,4% de expansão.
Essa evolução, segundo a área técnica, estaria em linha com o cenário de desaceleração previsto pelo Banco Central.
Dúvida. Para o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, a comparação defendida pelo BC não faz muito sentido. Ele lembra que no primeiro trimestre do ano passado a base de comparação - o início de 2009 - era uma economia no fundo do poço, distorcendo a análise. Para ele, é inegável que houve aceleração da atividade neste início de ano, o que reforça o cenário de pelo menos mais duas altas da taxa de juros básica, embora o economista avalie que os juros deveriam subir mais.
"O governo uma hora analisa o dado na margem para dizer que está desacelerando, como fez em fevereiro, outra, como fez em março, usa o dado comparado com o ano passado para dizer que está desacelerando. O ponto é que a economia ainda esta aquecida", criticou o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, que aponta o consumo e o investimento como motores da expansão.
A área técnica do Banco Central avalia que, com a combinação de medidas macroprudenciais e o processo de alta de juros, a tendência é de a economia desaquecer ainda mais e rodar abaixo da capacidade (que o mercado estima na média em 4,5%) no segundo semestre.
A expansão abaixo do PIB potencial é considerada pelo Banco Central como condição necessária para que a inflação seja reduzida e recolocada na direção da meta de 4,5%, alvo a ser perseguido em 2012. "Há uma tendência de queda na atividade econômica, refletindo as medidas que têm sido adotadas. O PIB crescerá abaixo do potencial no segundo semestre", disse a fonte.

BNDES é fator de moderação do crédito, não de expansão, diz Coutinho

Presidente do BDNES classificou de 'ideia estúpida' a avaliação dos mercados de que o governo iria descuidar da inflação

Londres - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um fator de moderação do crédito no Brasil, e não de expansão, afirmou hoje o presidente do órgão, Luciano Coutinho. "Precisamos controlar a inflação", afirmou.
Ele classificou de "ideia estúpida" a avaliação dos mercados de que o governo iria descuidar da inflação, problema que reconhecidamente traria prejuízos ao País. "A inflação vai convergir para a meta em 2012, não há dúvida."
O nível de empréstimos do BNDES tem sido apontado como um dos motivos para o expressivo crescimento do crédito no Brasil. Coutinho rebate a avaliação ao dizer que, se o banco seguisse no mesmo ritmo de expansão verificado anteriormente, os desembolsos neste ano subiriam para R$ 175 bilhões.
Mas, numa estratégia coordenada com o ministério da Fazenda, os empréstimos devem ficar em R$ 145 bilhões, mesmo nível de 2010, excluída a capitalização da Petrobras (no total, o número ficou em R$ 170 bilhões).
Ele sinalizou, entretanto, que a projeção de desembolsos em 2011 não é fixa e pode ficar "um pouco acima ou abaixo" disso. "É uma questão de coordenação, não podemos deixar no piloto automático."
A desaceleração já foi vista no primeiro trimestre, quando os desembolsos recuaram 2% em relação ao ano anterior, para R$ 24,9 bilhões.
Coutinho defendeu a moderação da inflação e do consumo das famílias no Brasil. Mas, disse que é preciso elevar os investimentos, para garantir um crescimento econômico sustentável. Para ele, a taxa de investimentos precisa subir de 18,5% para 25% do PIB.
Por isso, o presidente do BNDES defendeu o atual patamar da taxa TJLP, praticada pelo banco, pois acredita que sua elevação afetaria negativamente as decisões de investimentos de longo prazo.
Ele afirmou que os gastos públicos já desaceleram em termos reais e que o Brasil caminha para registrar um dos menores déficits fiscais nominais do mundo.
Em Londres, Coutinho recebeu ontem à noite o prêmio Personalidade do Ano da Câmara Brasileira de Comércio no Reino Unido.

Petrobrás avalia investimento menor para plano 2011-2015

Segundo diretor da estatal, membros do conselho de administração requisitaram mais estudos sobre o plano, incluindo opções que reduzissem o valor total dos investimentos

RIO/SÃO PAULO - A Petrobrás avalia a alternativa de incluir um volume de investimento menor do que o projetado inicialmente em seu novo plano de negócios, para o período de 2011 a 2015, informou o diretor financeiro da empresa, Almir Barbassa, nesta terça-feira, 17.
Segundo o executivo, membros do conselho de administração da petroleira requisitaram, na última sexta-feira, que fossem feitos mais estudos sobre o plano, incluindo opções que reduzissem o valor total dos investimentos inicialmente apresentados.
O plano de negócios da Petrobrás para o período de cinco anos foi apresentado ao conselho na última sexta-feira e a expectativa era de que fosse aprovado e anunciado no mesmo dia, mas a estatal informou depois que adiou a divulgação a pedido do conselho.
Segundo nota distribuída pela companhia ainda na sexta-feira, "foram solicitados estudos e análises adicionais que, uma vez realizados, serão submetidos (novamente) ao conselho de administração".
Em teleconferência com analistas e investidores nesta terça-feira, para comentar os resultados trimestrais, Barbassa acrescentou que alguns dos estudos solicitados se referem a reduções nos investimentos inicialmente planejados.
"O conselho me pediu para fazermos estudos de sensibilidade sobre o plano. Entre os estudos, há estudos que contemplam um capex menor", disse Barbassa.
O plano anterior, para o período 2010-2014, previa investimento de US$ 224 bilhões. Segundo fontes próximas ao assunto, o conselho de administração teria pedido um valor mais próximo ao plano em vigência.

Preço da gasolina e do etanol deve cair mais, diz BR Distribuidora

 Na semana passada, a BR repassou uma queda de 6% no valor da gasolina e 13% no etanol

RIO - O presidente da BR Distribuidora, José Lima de Andrade Neto, afirmou há pouco que são esperadas novas reduções nos preços da gasolina e do etanol com o avançar da safra de cana-de-açúcar. Ainda neste mês de maio e ao longo de todo o mês de junho, a BR, assim como outras distribuidoras deverão repassar para seus preços a redução que houver no preço do etanol. Por ter mistura de 25% de etanol em seu conteúdo, a gasolina é afetada diretamente.
Ele não quis comentar quais são as expectativas de queda dos preços. Na semana passada, a BR repassou uma queda de 6% no preço da gasolina e 13% no etanol.
"Existem no Brasil dois tipos de gasolina. A gasolina A que é vendida na refinaria e a gasolina C, que tem 25% de etanol. O que aconteceu no país é que a safra da cana termina em dezembro e o país acaba tendo um combustível que não é produzido 100% do ano. A queda na produção deste combustível fez com que os preços do etanol subissem, não só o hidratado - que vai direto na bomba - quanto o anidro, que é misturado na gasolina", explicou em entrevista após participar do Fórum Reis Veloso no Rio, destacando que os preços da gasolina aumentaram apenas por conta disso.
Indagado sobre a eventual pressão que a BR teria sofrido do governo federal para antecipar a queda do preço da gasolina e do etanol, Lima desconversou e disse que "o preço só subiu porque as usinas subiram o preço do etanol, e só caiu, porque houve redução do preço repassado pelas usinas". Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse à imprensa que faria pressão junto à BR Distribuidora para forçar uma queda de preços, já que a safra da cana havia começado e o reflexo na bomba de combustível ainda era insignificante.
Lima também comentou que não é correta a afirmação da Federação Nacional dos Revendedores de Combustíveis (Fecombustíveis), de que a queda do preço da gasolina e do etanol vendido pela BR era maior do que nos demais postos.
"Se olhar um gráfico dos preços médios do álcool anidro, é possível verificar que o litro estava a R$ 2,80 duas semanas atrás e na semana que a BR anunciou a redução de seus preços, já estava em R$ 1,60 na média dos postos do país", disse.
Segundo ele, a companhia já está verificando um retorno dos consumidores ao consumo de etanol neste mês de maio. Antes da alta de preços, em dezembro do ano passado, disse, a proporção era de 75% das vendas para gasolina e 25% para o etanol. Entre os meses de janeiro e abril, houve um fluxo migratório forte dos consumidores de etanol para a gasolina, que fez com que a proporção chegasse a 93% das vendas para gasolina e 7% para etanol. "Agora já estamos verificando que a proporção de vendas de gasolina esteja abaixo de 90%. Isso deve se normalizar nas próximas semanas", comentou.

Brasil é o 2º maior para investimento

Máquinas:

A indústria brasileira da construção - incluindo obras civis e infraestrutura - é a segunda, no mundo, com maior potencial de investimentos. Estudo da consultoria global Roland Berger mostra que o Brasil deve ter crescimento de 5,1% entre 2008 e 2013 - para uma expansão mundial de 2,3% no mesmo período. O país só fica atrás da Ásia, cujo aumento no período é estimado em 7,1%.

Por conta disso, a indústria de máquinas e equipamentos pesados, que cresceu 23% em 2010, deve ter uma expansão de 15% entre 2010 e 2014, quando deve atingir vendas de 38,6 mil unidades. Em 2009, foram vendidas 18 mil unidades e, no ano passado, foram comercializadas 22,1 mil unidades.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 são os principais fatores de crescimento para o setor. "Há grandes déficits e necessidades de investimento a serem solucionadas, como portos e aeroportos", afirma Thomas Kunze, da Roland Berger.

Para dar conta dos grandes projetos que o Brasil vai sediar, além das melhorias estruturais, o país precisa sair de 19% do PIB de investimento em infraestrutura para 23%. Na China e na Índia, países onde o governo investe pesado em infraestrutura, o percentual foi de 47,8% e 32%, respectivamente, em 2009. Só em portos, o Brasil teria de receber de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões em investimentos e em aeroportos, de US$ 8 bilhões a US$ 13 bilhões.

Ainda de acordo com o levantamento, os grandes competidores globais são os que lideram o mercado brasileiro. A Roland Berger aponta a Caterpillar como a principal fornecedora de máquinas e equipamentos pesados em 2009, com 3,87 mil unidades; seguida pela Case, com 2,88 mil; a Volvo, com 1,54 mil; e Komatsu, com 1,32 mil unidades vendidas. "Ainda que haja gargalos, há uma demanda latente por máquinas e equipamentos no Brasil", diz Kunze.

O Finame, do BNDES, que exige índice de nacionalização de 60%, dá um grande impulso ao setor.

Santa Adélia e Usina Pioneiros perto de uma fusão em cana

Agroenergia: Empresas se unem para crescer; plano é atingir moagem de 10 milhões de toneladas de cana

Associados da Copersucar, os grupos Pioneiros Bioenergia, de Sud Menucci (SP), e Santa Adélia, de Jaboticabal (SP), estão em negociações avançadas para fundirem suas operações de processamento de cana-de-açúcar.
De acordo com Celso Torquato Junqueira Franco, diretor da Pioneiros, os detalhes finais estão sendo fechados, mas a principal pendência ainda é o posicionamento dos bancos credores sobre o alongamento das dívidas das duas empresas, que têm juntas três usinas com capacidade somada para processar 6 milhões de toneladas de cana.

A fusão vai se dar por meio de troca de ações. A estimativa é de que a Pioneiros fique com cerca de 20% das ações do grupo Santa Adélia. O cálculo do valor das empresas, para efeito da troca de ações, está sendo finalizado e, segundo Junqueira Franco, deve ficar entre US$ 150 e US$ 170 por tonelada de capacidade instalada.
Tanto a usina Pioneiros quanto as duas unidades da Santa Adélia (Jaboticabal e Pereira Barreto) têm cogeração de energia a partir de bagaço de cana e produzem açúcar e etanol. A capacidade conjunta de exportação de energia se aproxima de 520 mil megawatts/hora por ano. Com a fusão, 35% a 40% da cana será proveniente de terceiros e, o restante será produção própria. A maior sinergia do negócio ficará entre a unidade da Pioneiros e a de Pereira Barreto, da Santa Adélia, que estão distantes 22 quilômetros.

O plano das duas empresas é ampliar o processamento das atuais 6 milhões de toneladas para 10 milhões de toneladas em três a quatro anos, diz o diretor.
Junqueira Franco explica que o alongamento da dívida com os bancos está sendo feito de forma a equilibrar os vencimentos dos dois grupos. Segundo último balanço publicado pela Pioneiros Bioenergia, referente ao ano encerrado em 31 de março de 2010, a dívida oriunda de empréstimos e financiamentos foi de R$ 136,9 milhões, considerando os vencimento de curto e longo prazos. Já a Santa Adélia, do família Bellodi, registrou uma dívida de empréstimos e financiamentos de R$ 303,8 milhões no ano encerrado em 31 de dezembro de 2009, último dado publicado pela empresa.
No mesmo ano, a receita da Santa Adélia foi de R$ 458,2 milhões enquanto a da Pioneiros alcançou R$ 127,1 milhões.

Para Fipe, álcool já não pressiona taxa de inflação no município de São Paulo

Chegou a hora da reversão do peso dos combustíveis na taxa de inflação. O produto, que era fator de pressão nas últimas semanas, começa a segurar a alta da inflação.
Os dados de ontem da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) apontam a primeira queda nos preços do álcool e a perda de ritmo da alta da gasolina no município de São Paulo.

O paulistano está pagando 4,3% menos pelo álcool hidratado, enquanto a gasolina parou de subir. A Fipe sempre compara os preços médios dos últimos 30 dias em relação aos 30 anteriores.

A entressafra da cana-de-açúcar, que provocou forte redução na oferta de álcool hidratado, fez o preço desse combustível subir até 17% em meados de abril -sempre considerando o acumulado de 30 dias.
A gasolina não apresenta queda nos preços médios calculados pela Fipe porque o derivado do petróleo começou a subir mais tarde.

A escassez de álcool anidro -misturado à gasolina- fez o derivado de petróleo subir só a partir do início de abril, acumulando aumento de 6,6% no mês.
Mas a gasolina também está em queda em vários postos de São Paulo. Por usar a média de preços de 30 dias em relação ao período anterior, a Fipe só vai captar essa redução nas próximas semanas.


Rotatividade de CEOs no Brasil supera média global

Gestão: Crescimento acelerado do país faz crescer a pressão por resultados e leva muitas companhias a demitirem presidentes com um desempenho ruim.

Para Ivan de Souza, presidente da Booz&Company, CEOs de países emergentes, com economias em ascensão, são mais cobrados

A taxa de rotatividade de CEOs no Brasil é uma das mais altas do mundo. No ano passado, ela ficou em 16,8%, acima da média global de 11,6%. O país também foi um dos que mais demitiram presidentes pelo mau desempenho na condução dos negócios, ficando ao lado apenas da Índia e da Rússia.

Esses dados fazem parte de um levantamento feito pela Booz&Company com 2,5 mil das maiores empresas globais de capital aberto, com faturamento superior a US$ 2,8 bilhões cada. "Quando a economia cresce, a pressão por resultados aumenta para os CEOs", diz Ivan de Souza, presidente da consultoria no Brasil. Nas economias em expansão, a concorrência é mais forte, as metas são ambiciosas e as expectativas são grandes. Portanto, a cobrança sobre a performance do gestor é maior.

O estudo mostra que 80% das substituições de CEOs no mundo em 2010 foram feitas por pessoas de dentro das organizações, que se mostraram mais eficientes na condução dos negócios. Os chamados 'insiders' geram uma taxa de retorno sobre o investimento (ROI) de 4,6% contra 0,1% dos que vêm de fora. "Eles conhecem melhor a capacidade da empresa para empreender outros negócios. Quem vem de fora geralmente tem uma leitura superficial e não sabe quais são as reais condições da equipe", diz Souza.

Embora os presidentes formados "em casa" tragam resultados melhores para os acionistas, em economias com crescimento acelerado, como a brasileira, a maior parte das substituições ainda é feita por profissionais trazidos do mercado. "As companhias não estão tendo tempo de preparar internamente sucessores para o primeiro posto", explica o presidente da Booz&Company.

Em mercados mais maduros, segundo ele, as empresas têm um banco de reservas maior de profissionais com experiências análogas às do presidente. "Um exemplo são executivos que comandam operações no exterior", diz. Nos países emergentes, é mais difícil formar líderes na mesma velocidade do crescimento das organizações. Souza, no entanto, acredita que a tendência é que a "prata da casa" seja mais valorizada por aqui também.

Outra característica dos sucessores eleitos na própria companhia é que eles ficam, em média, 7 anos no cargo - tempo considerado ideal pela maior parte dos conselhos de administração. Em contrapartida, os "forasteiros" deixam o comando após pouco mais de 4 anos. Comparando dados de dez anos atrás, quando a pesquisa foi realizada pela primeira vez, o tempo médio de permanência dos comandantes diminuiu de 8,1 anos para 6,6 em 2010.

A idade média dos CEOs na última década, no entanto, subiu. O estudo mostra que eles estão assumindo o posto com quase 53 anos, enquanto em 2000 isso acontecia aos 50. "Existe hoje uma maior valorização da experiência para lidar com situações extraordinárias", diz Souza.

O setor onde foi registrada a maior taxa de rotatividade de CEOs mundialmente no ano passado foi o de energia (16,3%), resultado superior à média global. Também foi a área na qual mais comandantes tiveram uma "saída forçada" (6,2%), o que significa que eles foram demitidos pelo fraco desempenho ou pediram para ir embora. "Tivemos uma grande variação no preço do petróleo, o que influenciou toda a cadeia de produção", afirma.

Embora a rotatividade de CEOs entre os emergentes tenha sido alta em 2010, a média global ficou 19% abaixo da registrada em 2009. Segundo o consultor, vários fatores são apontados para essa queda. Um deles é a maior presença de empresas chinesas (232) entre as grandes companhias pesquisadas. Na China, existe pouca troca de comando e apenas 5,2% das organizações registraram mudanças. "O fato de boa parte delas terem participação do governo chinês acaba garantindo essa estabilidade para os CEOs, assim como o baixo número de fusões e aquisições", explica Souza.

Outra razão para que os comandantes tenham permanecido mais tempo no cargo em 2010 em todo o mundo, exceto nos países emergentes, é porque muitos já haviam sido substituídos após a crise - especialmente entre 2008 e 2009. "Foi um movimento recente. Alguns estão começando a mostrar resultados só agora". Além disso, aqueles que conseguiram sobreviver às turbulências econômicas ganharam a confiança dos conselhos de administração para continuar no comando. "A tolerância em períodos de instabilidade econômica é maior. Os acionistas entendem que fatores associados ao desempenho estão fora do controle imediato dos CEOs", afirma.
Um novo aspecto abordado nessa edição da pesquisa foi a análise da influência do modelo de negócio no tempo de permanência no cargo. "Identificamos que quanto mais próximo da operação, mais exposto ele fica e seu tempo no posto se reduz". Por outro lado, um CEO responsável por uma holding com várias unidades fica um período mais longo no cargo, pois quando as coisas vão mal, ele demite os responsáveis por esses negócios. "Seu papel é visto de outra maneira e ele está mais blindado", afirma.

Usinas de cana são insuficientes

O presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, afirmou que o País precisa de novas usinas de forma urgente para garantir a oferta de etanol até 2020. Segundo o presidente, as unidades existentes irão investir em mais produtividade, mas não será suficiente para garantir o abastecimento. "No curto prazo, o setor consegue ampliar a capacidade de processamento, hoje em 640 milhões de toneladas de cana, para até 960 milhões de toneladas de cana até 2020", disse Jank. No entanto, na avaliação do setor, o crescimento até o final da década, de 320 milhões de toneladas de cana, seria menor que as 400 milhões de toneladas necessárias para suprir a demanda.

As declarações foram feitas em um seminário organizado pelo Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro (Ceise Br) ocorrido na última quinta-feira em Sertãozinho, cidade de cem mil habitantes localizada a 20 quilômetros de Ribeirão Preto, no nordeste paulista.

Ainda de acordo com Jank, há problemas em atrair novos empreendimentos porque as margens de lucro estão desaparecendo. "Como fazer essa ampliação a um custo de US$ 140 ou R$ 250 por tonelada de cana e com as margens desaparecendo?", indagou.

"É só ir ao BNDES pedir financiamento e perguntar se é viável produção de greenfields [novos projetos] com esse custo e ele [o banco] vai dar resposta que não", completou.

Para Adézio Marques, presidente do Ceise Br e organizador do evento, essa questão é um dos maiores desafios para o setor sucroalcooleiro nos próximos anos. "Temos imensos desafios pela frente. Um dos maiores é dobrar a atual produção de cana até 2020. Já mostramos competência quando a partir de 2003 e até o final do ano passado dobramos o nível de produção máximo alcançados nos últimos 500 anos. Mas certamente o maior desafio que temos é o de formar estes novos profissionais que estão atentos às mudanças e focados em buscar informação para transformá-la em conhecimento."

Para evitar a crise de oferta e de alta de preços, como a que ocorreu entre março e abril deste ano, Jank disse que o setor negocia com o governo medidas no "curtíssimo prazo", para garantir o abastecimento na próxima entressafra, nos primeiros meses de 2012. Segundo ele, estão em pauta um programa de financiamento para usinas estocarem etanol, no início da safra de cana, e a contratação de um volume de álcool anidro suficiente para o aumento da demanda da gasolina, à qual é misturado em até 25%.

"Existe programa de estoques de etanol em andamento que não funciona, porque os recursos saem tarde e é preciso pensar uma maneira para que isso ocorra no começo da safra e garanta volumes necessários para atravessar entressafra", disse Jank. "O segundo ponto é ampliar sistema de contratação de etanol [pelas distribuidoras] e garantir que para cada litro de gasolina haja o correspondente de 0,25 litro do anidro", completou o presidente da Unica. As negociações já começaram e que hoje esteve no Rio de Janeiro para conversas com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP) sobre o assunto. O executivo cobrou o envolvimento de outros elos da cadeia produtiva, principalmente as distribuidoras, na contratação de etanol anidro suficiente para a mistura à gasolina. "É preciso que as distribuidoras se responsabilizem pela contratação conjugada de anidro à gasolina para terminarmos a safra com garantia de que não haverá falta de anidro na entressafra."

O economista Antonio Vicente Golfeto, ligado à Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto e que pesquisa há mais de duas décadas o setor sucroalcooleiro aponta a iniciativa como extremamente válida, mas acredita que esse momento é fundamental para o setor, que deve garantir o abastecimento mesmo se precisar assumir algum prejuízo temporário. "Não podemos deixar que aconteça o que aconteceu no fim da década de 1980 e começo de 1990, com o Proálcool. Garantir o preço competitivo é fundamental para que o setor não perca credibilidade, e imagino que essa é a intenção de toda a cadeira do etanol", comenta.

Comprometimento

O executivo cobrou o envolvimento de outros elos da cadeia produtiva. "É preciso que as distribuidoras se responsabilizem pela contratação conjugada de anidro à gasolina para terminarmos a safra com garantia de que não haverá falta na entressafra", ressaltou o presidente da Unica.

Ele criticou ainda a decisão da BR Distribuidora, empresa da Petrobras, em tornar público o anúncio de redução de até 13% no preço do etanol hidratado nas bombas. "Não era necessário o anúncio, porque os preços já caíram nas usinas", disse. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) apontam uma queda acumulada de 33% no preço médio do etanol comercializado entre usinas e distribuidoras em São Paulo em pouco mais de 20 dias, com o início da safra.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Os desafios da boa governança

"A partir do momento que o interlocutor mente uma vez, na segunda vez o mercado já não vai acreditar no que ele está falando", disse Eliane

A governança corporativa é importante para um mercado de capitais mais justo, transparente e eficiente.
A economista Eliane Lustosa, coordenadora-geral do Capítulo Rio do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), aponta a transparência na administração das empresas como fundamental.
Eliane foi diretora de investimentos do fundo de pensão Petros, vice-presidente de finanças da Abril e diretora financeira da Globex (Ponto Frio) e da LLX Logística. Atualmente, é sócia da Triscorp, uma gestora de recursos.

As empresas com melhor governança corporativa tendem a ter um valor mais alto que aquelas nas quais a governança é fraca? Existem evidências empíricas ou estudos econométricos já feitos?
Essa é a crença do IBGC e a minha particular. Você tem índices, como o de governança corporativa que acompanha empresas no Brasil, e você identifica que justamente a evolução de rentabilidade desses índices é maior do que os índices da Bovespa.
Recentes estudos fizeram uma avaliação sobre justamente quanto que governança corporativa cria valor, quanto que as empresas que entraram nos mercados listados com boas regras de governança, quanto que isso agregou valor.
A conclusão é que reduz significantemente o custo de capitação das empresas listadas nesses mercados. Atualmente, a gente já identifica que se uma empresa vai fazer uma abertura de capital fora do novo mercado, ela tem que ter uma justificativa muito boa para não fazer no novo mercado.

No último ano, um dos tópicos mais controversos dos mercados de capitais foi o debate do quanto que as empresas devem ser obrigadas a divulgar sobre a remuneração dos executivos.Qual sua opinião sobre isso?
Por que é importante informar a remuneração? Para evitar que, em alguns casos, possa haver abuso, que a remuneração não seja condizente com o papel e a função de determinados administradores.
A informação é importante para que o mercado tenha luz, transparência na relação e na definição de preços, para evitar que haja abusos. Porque no fundo você está tirando dinheiro do caixa da empresa para determinadas pessoas.
O outro lado do debate diz o seguinte: temos um problema de segurança no Brasil, então essa informação não deve ser passada para o mercado. Tem certas pessoas que não é preciso saber quanto ganha porque exercem funções relevantes e você já pode assumir que essas pessoas tenham remuneração significativa.
No caso do código de melhores práticas, você não necessariamente precisa informar remunerações individuais. Mas é muito importante que seja informada, separando conselho de administração da gestão, qual é a remuneração média do conselho, citando benefícios e explicar se tem alguma variação em relação a essa média significativa

A existência de um Comitê de Remuneração subordinado ao conselho de administração é mandatório?
Não é mandatário, mas é uma boa prática que o conselho tenha os seus comitês e que eles tenham tempo para avaliar as questões do conselho.
É uma boa forma de ajudar o conselho a tomar as decisões, que é a mesma coisa que o comitê de auditoria.

Reportar as médias do conselho e da administração, você acha que foi uma boa solução?
Eu acho que foi uma boa solução, é fundamental informar se a média tem alguma discrepância e explicá-la.

Os conselheiros independentes estão no conselho das empresas para representar os minoritários. Você acha que os independentes no Brasil estão fazendo um bom trabalho?
O conselheiro independente é relevante, porque ele é aquela pessoa que vem de fora e olha apenas para os interesses da empresa. Ele precisa atuar sem constrangimento.

A cultura da cordialidade brasileira trabalha contra isso não é?
Pois é, aí eu acho que o trabalho da CVM é muito importante, porque já puniu conselheiro por ficar em cima do muro, sendo que ele tinha o dever de se posicionar.
Do outro lado, a educação dos conselheiros é fundamental, porque nem todos que atuam na área sabem das suas responsabilidades.

Você mencionou o papel da CVM fazendo com que a lei valha. E o papel dos investidores institucionais?
Os investidores têm um papel fundamental. O acompanhamento dos investidores, a interface com as áreas de RI, é um parâmetro muito considerável.

Existe algum instrumento que fiscalize o diretor financeiro e o presidente das empresas quando falam com o mercado?
Na economia tem um termo chamado moral hazard, perigo moral. A partir do momento que o interlocutor mente uma vez, na segunda vez o mercado já não vai acreditar no que ele está falando. O mercado vai dar um desconto