Negociações entre as duas empresas haviam começado em maio e é mais um lance dentro da estratégia dos grupos multinacionais de ampliarem presença na produção de álcool
02 de dezembro de 2010 | 8h 05
Melina Costa e Eduardo Magossi, de O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Foi fechada na terça-feira a venda de aproximadamente 70% da usina de etanol Rio Vermelho, de Junqueirópolis (SP), para a trading suíça Glencore. Segundo o "Estado" apurou, o valor do negócio é superior a US$ 80 milhões. Procurada, a Glencore não comentou o assunto.
A aquisição marca a entrada da Glencore na operação de etanol no Brasil. A empresa suíça comercializa grandes volumes de metais, petróleo, carvão e produtos agrícolas e tem mais de 50 mil empregados diretos e indiretos em mais de quarenta países.
Nas próximas semanas, a Glencore definirá o novo plano operacional da Rio Vermelho. Desde outubro, o executivo Jean Lesur, que já trabalhou na usina de álcool Infinity Bio-Energy, tem se dedicado à transição entre a administração da família Garieri, os ex-controladores da Rio Vermelho, e a administração da Glencore. Seu nome é cotado para a posição de presidente da usina.
No negócio, a Rio Vermelho foi assessorada pelo escritório de advocacia Demarest & Almeida e pela divisão de corporate finance da consultoria Czarnikow Group. De seu lado, a Glencore foi assessorada pelo Mundie e Advogados.
Atualmente, a Rio Vermelho produz apenas etanol hidratado, mas a estratégia é equipá-la rapidamente para produzir açúcar, um dos principais produtos comercializados pela Glencore no mercado internacional.
Criada em 2007, a usina Rio Vermelho tem capacidade de produção de até 1,3 milhão de toneladas de cana-de-açúcar. Nos últimos dois anos, porém, foi atingida duramente pela crise financeira mundial, chegando a demitir grande parte dos funcionários no auge da depressão.
O negócio com a Glencore foi exatamente a saída encontrada pela família Garieri, que ainda ficará com cerca de 30% da empresa e mantém investimentos em outras áreas do agronegócio, como a plantação de laranja.
Multinacionais. O movimento da trading Glencore é mais um passo em direção ao crescimento da participação de grupos estrangeiros no setor sucroalcooleiro brasileiro. Em dois anos, o porcentual do mercado nas mãos de capital externo passou de 15% para 25%.
Outras grandes tradings multinacionais já marcaram posição no segmento, com a Bunge, que adquiriu a Moema e a Louis Dreyfus Commodities entrando na Santelisa Vale. Nos últimos meses, Cargill e ADM também fizeram investidas, mas sem sucesso. Por enquanto, estão consolidando o setor de biodiesel.
Além das tradings, as companhias de petróleo também aumentaram sua participação. A Shell criou uma gigante com a associação com a Cosan, e a pioneira BP, depois de um início tímido com a Tropical, avança em direção à Cerradinho.
O movimento mais ousado foi da indiana Shree Renuka Sugars, que, em apenas dois lances, adquiriu a Vale do Ivaí e parte da Equipav, ocupando espaço entre os 10 maiores do País em capacidade de moagem. A Petrobrás se associou à francesa Tereos (Guarani) e à São Martinho.
Álcool
1,3 milhão de toneladas de cana de açúcar é a capacidade de moagem da usina Rio Vermelho
25% do mercado de etanol brasileiro está hoje nas mãos de empresas estrangeiras. Há dois anos, essa fatia era de 15% .
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