segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dedini ligada na tomada


Empresa especializada em produzir equipamentos para usinas de cana-de-açúcar agora vai vender energia. O objetivo é reduzir a sua dependência do setor sucroalcooleiro

Por Érica Polo

Atualmente, cerca de 21% das usinas brasileiras de cana-de-açúcar fornecem energia elétrica para o País. Embora o interesse pela geração a partir do bagaço e da palha da cana tenha crescido nos últimos anos, essas empresas ainda respondem por apenas 1,1 mil MW. Ou seja, apenas 3% da energia gerada em todo o território nacional.
Porém, o cenário deve mudar. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), uma onda de investimentos da ordem de R$ 70 bilhões é esperada até 2020, quando as usinas nacionais passarem a fornecer 13,1 mil MW – o equivalente a 14% da matriz energética do País.

Sérgio leme, presidente da Dedini: "Até 2012, vamos ter uma empresa de energia.
Estamos conversando com três grupos interessados em ser nossos parceiros"

Quem está apostando nesse movimento é a Dedini, empresa que fabrica caldeiras, tubulações e equipamentos para indústrias como a sucroalcooleira, a de petróleo e gás, a de mineração e de siderurgia.

“Até 2012, vamos ter uma empresa de energia”, disse Sérgio Leme, presidente da empresa, à DINHEIRO. “Já estamos escolhendo os locais e conversando com três grupos interessados em ser nossos parceiros.”

Batizada de Dedini Energy, a companhia deverá usar biomassa como matéria-prima e nascerá com quatro plantas industriais com potencial de 35 MW cada uma. O modelo de negócios será flexível.

A Dedini poderá ter participações e sócios distintos em cada uma dessas unidades. Trata-se de um negócio que, a princípio, deverá consumir investimentos de aproximadamente R$ 400 milhões. “São projetos de médio porte, mas significativos”, avalia João Carlos Mello, presidente da consultoria Andrade & Canellas.

A diversificação foi a alternativa encontrada pela Dedini para ficar menos vulnerável às oscilações da economia. Até hoje, a empresa patina por conta da crise global de 2008.

 Recuperação: a empresa, que ainda sofre consequências da crise de 2008, viu suas vendas aumentar em 10% neste ano, para R$ 800 milhões.

Depois da tormenta financeira, muitas empresas, principalmente do setor sucroalcooleiro, engavetaram projetos. Detalhe: esse segmento representa 40% da receita anual de R$ 1 bilhão da Dedini e interrompeu um forte ciclo de crescimento que ocorria desde 2003.

“Nossa meta era alcançar receita de R$ 2,5 bilhões em 2014. Mas a crise interrompeu nossos planos e vamos alcançar esse patamar em 2016 ou 2018”, diz Leme. A área de novos negócios da companhia ainda é relativamente pequena.

O faturamento é de R$ 60 milhões com uma empresa de automação para indústrias e uma fabricante de refratários. As futuras usinas de geração de energia é que engordarão as receitas. “Vamos faturar R$ 1 bilhão com os novos negócios até 2020.”

Analistas, entretanto, fazem ressalvas a esse tipo de projeto. “Apesar de a biomassa ser uma alternativa atraente para investidores entre outras fontes de energia renovável, pode não ser a preferida”, alerta Mello, da Andrade&Canellas.

Isso porque gerar energia a partir da biomassa tem o que ele chama de vício de origem. Em outras palavras, o bagaço da cana depende do mercado de açúcar e etanol. “Sem a produção deles, não há matéria-prima”, lembra o consultor.

Sérgio Leme, no entanto, acredita que o setor tem boas perspectivas. O executivo acrescenta que as apostas não vão parar em energia. “Estamos buscando novas áreas que tenham integração horizontal ou vertical com o principal negócio.”

Para entender melhor a estratégia, basta olhar para o exemplo da Dedini Automação e Processos, que existe há quatro anos. A empresa de engenharia desenvolve programas de gerenciamento para indústrias e também atende os clientes que adquirem bens de capital. “Antes, contratávamos esse serviço, agora fornecemos integralmente”, diz Leme.



Boa parte das encomendas veio das usinas de açúcar e álcool

Isso não quer dizer que a companhia vai deixar o coração de seus negócios de lado. O bom desempenho do segmento de cana neste ano já levou investidores a refazer encomendas de equipamentos e, esse movimento, já ajudou a empresa. 

“Estamos vendo uma luz no fim do túnel no curto prazo. Só espero que não seja um trem”, brinca Leme. “Foi um ano de recuperação e um sinalizador disso é o aumento de vendas em 10%.

Começaremos 2011 com uma carteira de pedidos de R$ 800 milhões.” “A safra atual do setor de cana é excepcional e os preços estão sendo puxados pelo mercado internacional”, explica Júlio Borges, diretor da Job Economia e Planejamento.
O economista diz que os estoques mundiais de açúcar estão muito baixos por conta da queda de produção em 2008 e 2009, fato que explica o aumento de 24% nas exportações brasileiras. Entre abril e novembro, foram embarcadas para o Exterior 21,6 milhões de toneladas. Para 2011, o cenário continua positivo.

“O preço do petróleo  deve subir, o que dará bom suporte de preços para etanol e açúcar. Isso estimulará mais investidores a resgatar projetos”, acrescenta Borges. Outra vertente de crescimento para a Dedini está no mercado externo.

Passado definitivamente o baque da crise, a companhia pretende fortalecer sua presença no Exterior. Mais do que simplesmente exportar equipamentos, a ideia é construir sua primeira unidade fora do País.

“Vamos começar pequeno, pensar grande e crescer rápido”, diz Leme. “Começo com uma parceria, monto uma área de engenharia, até chegar à unidade industrial.” Mais do que apenas planos, os primeiros passos já foram dados e conversas com possíveis parceiros na Índia e África, países onde a produção de cana também é significativa, estão em curso. 

Leme não sabe dizer onde será levantada a primeira planta, porém, garante que acontecerá também na próxima década. O foco? Açúcar e etanol, área em que a companhia domina a tecnologia.
Fonte: Istoé Dinheiro

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