"Ficou difícil justificar novas plantas de etanol dado o aumento de 40% no custo do etanol", disse Williams, da Shell
O etanol tende a ganhar fatia cada vez maior no mercado global de combustíveis, na visão da anglo-holandesa Shell, sócia da brasileira Cosan na Raízen. "Esperamos que a longo prazo a participação do etanol nos combustíveis cresça", disse ao Valor Mark Williams, vice-presidente mundial da área de distribuição da Shell. Segundo o executivo, o etanol equivale hoje a 3% da demanda mundial de gasolina, percentual que pode chegar a 10% nos próximos anos.
Dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) elaborados pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) mostram que, em 2008, o consumo mundial de gasolina foi de 20,8 milhões de barris/dia. Os 3% de etanol corresponderiam a cerca de 600 mil barris/dia. E os 10% previstos por Williams equivaleriam a 2 milhões de barris por dia considerando os dados da IEA.
Williams disse que a Shell utilizará a Raízen como plataforma de crescimento para a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar. Segundo ele, há muitas oportunidades para investir em etanol no Brasil, mas é preciso ganhar eficiência na produção. Os ingredientes para aumentar a produção de etanol, incluindo a oferta de terras, estão disponíveis. Mas, para Williams, ficou difícil justificar o desenvolvimento de novas plantas dado um aumento de cerca de 40% no custo de produção do etanol.
A Raízen é a primeira experiência da Shell na produção de biocombustíveis. A joint venture planeja investir US$ 7 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos. Cerca de US$ 5 bilhões serão para ampliar a produção de etanol, açúcar e energia elétrica cogerada. O restante dos recursos irá para a rede de postos de combustíveis - hoje a Raízen tem uma rede de 4,5 mil postos, entre Shell e Esso - e operações de logística.
A perspectiva da Raízen, que começou a operar de forma integrada em 1º de junho, é sair de uma capacidade atual de moagem de cana de 65 milhões de toneladas para 100 milhões de toneladas em cinco anos. No período, vai mais do que dobrar a produção de etanol, saindo de uma capacidade atual de 2,2 bilhões de litros para 5 bilhões de litros por ano.
Williams admitiu que a meta, num prazo curto, é ambiciosa. Disse que a Shell está "feliz" em ter a Cosan como sócia e que não há um compromisso, mas pode haver uma oportunidade de comprar a participação do sócio na Raízen no futuro. Mas não há qualquer decisão tomada na Shell sobre esse assunto.
Segundo o executivo, há três formas para ampliar a capacidade de produção de etanol. Uma é comprar plantas existentes e áreas plantadas. Outro caminho é a expansão de usinas já existentes. A terceira opção é construir novas unidades. "A Raízen considera as três alternativas." Na safra 2011/12, espera-se que a Raízen tenha um volume de cana de açúcar moída entre 53 milhões e 56 milhões de toneladas.
Ele disse não temer a concorrência da Petrobras no setor. "Há muito espaço no mercado de etanol para Raízen e Petrobras. O setor de produção de biocombustíveis é fragmentado no Brasil. E há oportunidade para players fortes trazerem tecnologia e eficiência, que sempre são bem-vindas no mercado", avaliou. A Raízen deve atingir 1,4 milhão de hectares plantados com cana de açúcar na safra 2016/17.
A estratégia da Shell para o setor prevê ainda pesquisa e desenvolvimento relacionada à segunda geração de biocombustíveis, disse Williams. Segundo o executivo, a empresa é hoje a maior compradora mundial de etanol, com um volume que chegou a 9,5 bilhões de litros em 2010. É também a empresa que mais mistura álcool à gasolina por força de legislações que obrigam à adição de etanol ao combustível fóssil em cerca de 50 países, incluindo EUA e Brasil. No primeiro, a adição de etanol à gasolina é de 10% de etanol à gasolina. No Brasil, o governo reduziu o percentual de mistura de 25% para 20% a partir de 1º de outubro.
Para Mark Williams, existem incertezas para o uso futuro do etanol na Europa, mas é possível ver o continente avançar para percentuais de mistura na gasolina entre 5% e 7%. A China, observou, está entusiasmada com o desenvolvimento de tecnologias de biocombustíveis enquanto a Índia, que tem um setor agrícola robusto, tem interesse no setor.
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