Saul Singer, escritor e especialista em inovação: em Israel, país campeão em empresas novatas, mercado é menos avesso ao risco que no Brasil
Uma mudança no mercado brasileiro está tornando o cenário mais atrativo para as empresas de inovação nascentes. Na cadeia de investidores, a figura do investidor-anjo - empresas ou pessoas físicas que investem pequenas quantias em companhias iniciantes - começa a se tornar mais comum. Em alguns casos, são os antigos donos de empresas novatas, que se mostraram bem-sucedidas e acabaram compradas, que estão usando parte desses ganhos para financiar outras "startups".
O mesmo movimento foi observado há algumas décadas em grandes polos de inovação como o Vale do Silício, na Califórnia, e a cidade de Boston, diz Leslie Charm, professor de finanças para empreendedores do Babson College, nos Estados Unidos. "O cenário de inovação no Brasil mudou rapidamente nos últimos cinco anos e a tendência é que surjam novos investidores-anjos no curto prazo", afirma o especialista. O Babson College fica em Boston, onde se situam milhares de empresas novatas criadas principalmente a partir de projetos nascidos no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Para Charm, o fato de empresários brasileiros investirem em companhias nascentes transmite ao mercado internacional uma impressão de confiança nos projetos de inovação existentes. "Existe um grupo de cerca de 75 investidores que buscam projetos de inovação pelo mundo. O cenário atual do país coloca as 'startups' brasileiras na mira desses investidores", afirma o professor.
Donos de ex-novatas bem-sucedidas, como Romero Rodrigues, do BuscaPé, investem em projetos de terceiros
Alguns desses novos investidores-anjos fizeram aportes recentemente. O caso mais emblemático no setor de tecnologia é o de Romero Rodrigues, um dos fundadores do site comparador de compras BuscaPé, que foi adquirido em 2009 pelo grupo sul-africano Naspers, por US$ 342 milhões, o valor mais alto já pago por uma novata brasileira de internet. Rodrigues segue como executivo-chefe do BuscaPé, mas investe parte dos seus ganhos em empresas nascentes. A mais recente foi a Shoes4You, loja virtual de sapatos femininos, lançada neste mês.
Outro caso é a Movile, empresa de serviços para a área de telecomunicações, como serviço de marketing e aplicativos para celulares. A empresa foi fundada em 2000 e, dois anos depois, recebeu aporte da Rio Bravo Investimentos. Em 2008, o Naspers entrou como investidor para acelerar o processo de internacionalização. Em 2010, a empresa fundiu as operações com a Cyclelogic e expandiu sua atuação para oito países na América Latina. Fabrício Biosi, executivo-chefe da Movile, diz que a receita cresceu 20 vezes em três anos, chegando a R$ 30 milhões em 2010.
Biosi faz parte de um grupo de 50 empresários de Campinas, que lançaram em janeiro o Inova Ventures Participações (IVP), um fundo de R$ 2,5 milhões voltado para financiar "startups". Também foi observado em Campinas um movimento de empresas que destinam recursos para empregados criarem suas startups. Companhias como CI&T, Concrete Solutions e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) reservam de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões para esses investimentos, que já beneficiaram 22 projetos em um ano.
Os novos investidores somam-se a grupos que já investiam em companhias iniciantes, como Gávea Angels, Bossa Nova Investimentos, Floripa Angels e Antera Gestão de Recursos. Charm diz que o surgimento de novos investidores, associado a um quadro de "startups" que operam em parceria com universidades deve contribuir para a formação de grandes polos de inovação. "O Brasil pode se ter o seu Vale do Silício, à medida que a aversão ao risco diminui no país", afirma.
Saul Singer, especialista em inovação e coautor do best seller "Nação Empreendedora: O milagre econômico de Israel e o que ele nos ensinou", vê no mercado brasileiro um cenário similar ao da Europa, onde os investidores ainda preferem opções mais conservadoras que uma "startup". Os juros altos, afirma, diminuem o interesse de investidores em negócios mais arriscados.
"Há uma tendência no Brasil a pensar que empreendedores que fecham a empresa são fracassados, mas a falha é normal", diz. Em Israel, que tem maior proporção de "startups" em relação ao total de empresas, com 3 mil a 4 mil empreendimentos, mais de 40% das companhias novatas fecham antes de dois de existência, como no Brasil. "A diferença é que, em Israel, há 60 anos os empresários estão se dispondo a correr riscos."
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