O papo no mercado de juros futuros é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode acelerar o ritmo de corte da Selic para um ponto percentual no encontro de outubro.
Os contratos de juros futuros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) ilustram bem esse quadro.
Antes eram a crise, o dólar que parou de subir e os motivos técnicos que explicavam o recuo nas taxas futuras.
Taxa de juro real cai a 4,5% e faz nova mínima histórica
Agora é tudo isso e mais o noticiário dando conta de que as autoridades brasileiras que estiveram nas reuniões realizadas nos Estados Unidos voltaram mais assustadas com a gangrena do cenário externo.
As taxas voltaram a derreter ontem, e o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2013 fez nova mínima histórica a 10,24%, queda de 0,22 ponto percentual.
Na sexta-feira, as taxas futuras já tinham desabado em cima da tese de que o dólar forte não atrapalhará a inflação, pois o governo já se mostrou disposto a conter movimentos atípicos de alta de preço da moeda americana.
A novidade na segunda-feira foi a difusão da percepção de que quem voltou de Washington teve uma "confirmação" da tese de que a crise externa é cada vez mais alarmante.
Com isso, o plano de voo que trabalha com redução de juro básico e deflação externa fazendo se sentir aqui fica mais do que reforçado.
Por ora, no entanto, a piora externa não melhorou a inflação presente e prospectiva.
O Focus mostra Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do teto da meta de 6,5% em 2011 e em 5,52% no encerramento de 2012.
Quando o BC cortou a Selic em 31 de agosto, o Focus mostrava inflação oficial de 6,31% para o ano corrente e de 5,20% para o fim do próximo ano.
Nesse período, o que caiu foi o juro real, aquele que tira a inflação da conta e que realmente importa na tomada de decisão entre poupança e investimento.
A queda nas taxas de mercado e a piora nos prognósticos de inflação levam a taxa real de juro para nova mínima histórica de 4,50% ao ano.
A saber. O cálculo considera o swap 360 dias de 10,52% e a previsão em 12 meses para o IPCA, que subiu a 5,76%. Antes da última reunião do BC essa taxa real estava em 5,48%.
Para alguns participantes do mercado, o "modo turco" de política monetária foi ativado.
O juro vai para baixo e o câmbio será balizado pelas atuações do governo.
Fica em aberto se a inflação por aqui pode testar os dois dígitos como na Turquia em 2008 para depois recuar.
Por lá, o índice de preços ao consumidor ficou ao redor de 6,5% em 2009 e 2010, mas está estimado em 8% para 2011.
Novas pistas sobre como o BC enxerga o cenário podem vir hoje, com o discurso do presidente da instituição, Alexandre Tombini, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Ainda na semana o Relatório de Inflação, que pode ser decisivo para o mercado fechar as apostas sobre o rumo da Selic.
Olhando para o mercado externo, o dia foi de firme alta nas bolsas de valores.
Os analistas falavam em "esperança" de que o Banco Central Europeu (BCE) adote novas ações para conter a crise de endividamento soberano.
De concreto mesmo, o que se vê são os CDSs de França e Alemanha rondando máximas históricas. Os "Credit Default Swaps", espécie de seguro contra calotes, vêm em trajetória ascendente desde que o BCE passou a comprar títulos de países periféricos.
Na época, um estrategista notou que ao fazer isso, o BCE tirava o risco antes concentrado em países periféricos como Grécia, Espanha, Itália, Irlanda e Portugal e o trazia para o centro da zona do euro.
Os CDSs confirmam essa história e a mesmíssima coisa deve ocorrer se virar fato a ideia de se fazer um "bônus comum europeu" ou mesmo de se reforçar o Fundo de Estabilização Financeiro da Europa (EFSF, na sigla em inglês).
O que se pode concluir diz esse mesmo estrategista é que a Alemanha e a França, principalmente, vão resgatar as economias que estão em crise, o que pode ter resultado negativo para a zona do euro.
"A disparada dos CDSs da França e Alemanha indica que haverá uma piora do fundamento desses países ao socorrer os outros que se encontram perto da falência. E o risco embutido nisso é de a região como um todo ser puxada para o centro da crise", conclui.
No câmbio local, o dólar comercial caiu ontem 1%, subiu mais de 2% e terminou o dia com leve baixa de 0,38%, a R$ 1,822 na venda.
Atenção à movimentação dos estrangeiros na BM&F. Na semana passada, esses agentes compraram mais de US$ 7 bilhões em contratos de dólar futuro.
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