Apesar da frustração com a safra deste ano (2011/2012), a indústria sucroalcooleira do Brasil confia na capacidade de atender a demanda crescente de consumo de açúcar e álcool pelo menos até 2020. Dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única) apontam para uma moagem de cana, na safra atual, de 533,50 milhões de toneladas, redução de 6,16% em relação a março e queda de 4,21% sobre o valor final da safra 2010/2011).
A redução foi circunstancial, avalia a Única. "Nossa projeção para 2019/2020 é alcançar um patamar de 1 bilhão de toneladas de cana para moagem. Para completar essa produção até 2020 o setor precisa fazer investimentos no campo de R$ 80 bilhões. Assim teremos condições de atender o mercado interno com certa tranquilidade e até termos etanol para exportar", prevê Sérgio Prado, representante da Única em Ribeirão Preto, maior região produtora de cana do Estado de São Paulo.
Na avaliação dos usineiros, o menor volume se deve à falta de renovação do canavial nos últimos anos, associada à redução nos tratos culturais em algumas regiões, o que reduziu a produtividade, pois o canavial mais velho possui baixo rendimento. Esse aspecto, segundo a Única, já havia sido previsto e incorporado nas primeiras estimativas de safra da entidade.
Mas um fator que pesou forte foi o longo período de estiagem observado entre abril e agosto de 2010, aliado ao "veranico" em maio. Segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a produtividade agrícola da área colhida até este momento ficou em 76 toneladas por hectare, queda de 19,66% em relação ao mesmo período de 2010.
Para os empresários do setor, o cenário impõe desafios adicionais, mas não inibe planos de crescimento. "A indústria sucroalcooleira precisa investir R$ 80 bilhões para expansão da produção de cana e vai buscar financiamentos para isso. Do total, 60% serão provenientes de capital próprio e o restante de empréstimos que vamos buscar em bancos de fomento", diz Prado.
Com 24 unidades produtoras de açúcar, etanol e bioenergia, e faturamento estimado de R$ 50 bilhões, a usina Raízen, joint venture entre Shell e Cosan, não revela o investimento que pretende realizar para atender a demanda potencial de açúcar e etanol, mas tampouco contém o entusiasmo.
"A Raízen conta com um ousado plano de expansão para os próximos cinco anos, que elevará a capacidade atual de moagem de 65 milhões de toneladas de cana para 100 milhões", afirma o vice-presidente Pedro Mizutani. Segundo ele, esse plano de expansão ocorrerá por meio da combinação de diferentes medidas para maximizar a produção. "Uma delas ocorrerá por meio da expansão das usinas já existentes. E também haverá os novos projetos (os chamados greenfields), além de aquisições", diz.
Apesar das expectativas otimistas do mercado, o consumo deve sofrer com falta de etanol já no médio prazo. "A estimativa é que o percentual de veículos flex rodando com etanol vai cair para 45%, ante os 65% atuais", diz Arnaldo Corrêa, gestor de riscos e diretor da Archer Consulting, empresa especializada em gerenciamento de riscos em commodities agrícolas.
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