quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Investimento da Odebrecht em Angola chega a US$ 1 bilhão

Depois de fortalecer presença na capital Luanda, companhia cresce no interior angolano

Companhia inicia a expansão para cidades do interior e estuda a possibilidade de entrar no segmento de média e baixa renda, caso surjam opções de financiamento para o setor.
A Odebrecht está entrando em uma nova fase de desenvolvimento no mercado imobiliário angolano, no qual estreou há 15 anos.
Prestes a alcançar a marca de US$ 1 bilhão em investimentos, a grande maioria deles concentrados na capital, Luanda, a construtora brasileira começa agora a desenvolver projetos no interior e estuda entrar nos segmentos de média e baixa renda.
"É uma das áreas mais promissoras", diz Felix Martins, diretor da área na Odebrecht Angola.
Os dois projetos mais recentes lançados pela companhia foram a quarta etapa do condomínio Belas Business Park, o primeiro complexo empresarial e residencial de Angola, com área construída de 150 mil metros quadrados e 700 unidades imobiliárias de apartamentos e escritórios, em Luanda; e o Terraços Lobito Privilege, na província de Benguela. Cada um deles é orçado em US$ 100 milhões.
Mas a Odebrecht Angola estuda também projetos em outras províncias. Apesar de Martins não especificar em quais, não são tantas as alternativas: Soyo,Ambriz, Malanje, Porto Amboin, Huambo, Luena, Lubango, Menongue e Namibe estão entre as principais cidades do país e são candidatas.
De modo geral, porém, estes são empreendimentos voltados ao público de alto poder aquisitivo do país. De acordo com Martins, a investida nos segmentos de média e baixa renda, ainda que em estudo, depende do aumento da oferta de linhas de financiamento à população. Um problema que até recentemente travava mercados bem mais robustos, como o brasileiro.
A conta de US$ 1 bilhão em investimentos no país inclui tanto empreendimentos residenciais quando empresariais. A entrada da Odebrecht no mercado imobiliário de Angola aconteceu em 1997 com o desenvolvimento de um novo centro urbano, na região de Talatona, parte sul de Luanda.
Lá, a companhia brasileira ergueu seu primeiro empreendimento imobiliário no país africano, batizado Condomínio Atlântico Sul. Entre 2004 e 2005, com a economia local aquecida pelas exportações do petróleo, a Odebrecht resolveu apostar em um shopping center, o Belas, que tornou-se um projeto âncora na região.
A partir daí, seguiram-se empreendimentos como o Arte Yetu Residencial, com 16 torres e 76 unidades imobiliárias; o Morada dos Reis, com duas torres e 64 unidades; e condomínios de alto luxo, como o Vivendas São Paulo de Luanda, com 24 unidades de 494 metros quadrados cada, e o Mansões do Vale, também com 24 residências, de 408 metros quadrados cada.
"O ingresso no mercado imobiliário foi um movimento natural", afirma Martins. Há 27 anos em Angola, a companhia brasileira viveu parte da guerra civil que destruiu a infraestrutura do país. Com a pacificação, a partir de 2002, partiu para consolidar sua posição participando dos esforços de reconstrução, embalados por exportações de petróleo e minérios, como ouro.
Hoje, a Odebrecht atua em uma série de outros setores da economia local, como infraestrutura, mineração, energia e óleo e gás. A área imobiliária representa 8% da receita total no país, onde tem em andamento cerca de 20 contratos.

Vale Fertilizantes planeja investir US$ 15 bi

A necessidade de diversificação de portfólio mobiliza a Vale. Segundo o diretor de operações da Vale Fertilizantes, Marcelo Fenelon, a companhia vai investir US$ 15 bilhões nos próximos dez anos na produção de fosfato e potássio, usados na produção de fertilizantes.
Segundo o executivo, os aportes permitirão à companhia passar da sexta para a segunda posição mundial entre os produtores de rochas de fosfato e do 14º para o quinto lugar no mercado de potássio.
Além de buscar menor dependência de minérios demandados pela área de infraestrutura, a estratégia da empresa está apoiada nas previsões de aumento da demanda por alimentos.
A população mundial deve crescer de 7 bilhões de habitantes para 9,7 bilhões até 2050, e 1,5 bilhão de pessoas migrarão para a classe média nos países desenvolvidos.
"E 50% da oferta adicional de alimentos no mundo até 2050 deve vir do Brasil", disse Roberto Busato, vice-presidente da Mbac Fertilizantes, que coloca em operação em 2012 um projeto integrado de fertilizantes (mina e fábrica de fosfatados) em Arraias, no sul do Tocantins. A empresa investiu cerca de R$ 400 milhões. (TF)

Para produtores de cana, recuo foi circunstancial

Apesar da frustração com a safra deste ano (2011/2012), a indústria sucroalcooleira do Brasil confia na capacidade de atender a demanda crescente de consumo de açúcar e álcool pelo menos até 2020. Dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única) apontam para uma moagem de cana, na safra atual, de 533,50 milhões de toneladas, redução de 6,16% em relação a março e queda de 4,21% sobre o valor final da safra 2010/2011).

A redução foi circunstancial, avalia a Única. "Nossa projeção para 2019/2020 é alcançar um patamar de 1 bilhão de toneladas de cana para moagem. Para completar essa produção até 2020 o setor precisa fazer investimentos no campo de R$ 80 bilhões. Assim teremos condições de atender o mercado interno com certa tranquilidade e até termos etanol para exportar", prevê Sérgio Prado, representante da Única em Ribeirão Preto, maior região produtora de cana do Estado de São Paulo.
Na avaliação dos usineiros, o menor volume se deve à falta de renovação do canavial nos últimos anos, associada à redução nos tratos culturais em algumas regiões, o que reduziu a produtividade, pois o canavial mais velho possui baixo rendimento. Esse aspecto, segundo a Única, já havia sido previsto e incorporado nas primeiras estimativas de safra da entidade.
Mas um fator que pesou forte foi o longo período de estiagem observado entre abril e agosto de 2010, aliado ao "veranico" em maio. Segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a produtividade agrícola da área colhida até este momento ficou em 76 toneladas por hectare, queda de 19,66% em relação ao mesmo período de 2010.
Para os empresários do setor, o cenário impõe desafios adicionais, mas não inibe planos de crescimento. "A indústria sucroalcooleira precisa investir R$ 80 bilhões para expansão da produção de cana e vai buscar financiamentos para isso. Do total, 60% serão provenientes de capital próprio e o restante de empréstimos que vamos buscar em bancos de fomento", diz Prado.
Com 24 unidades produtoras de açúcar, etanol e bioenergia, e faturamento estimado de R$ 50 bilhões, a usina Raízen, joint venture entre Shell e Cosan, não revela o investimento que pretende realizar para atender a demanda potencial de açúcar e etanol, mas tampouco contém o entusiasmo.
"A Raízen conta com um ousado plano de expansão para os próximos cinco anos, que elevará a capacidade atual de moagem de 65 milhões de toneladas de cana para 100 milhões", afirma o vice-presidente Pedro Mizutani. Segundo ele, esse plano de expansão ocorrerá por meio da combinação de diferentes medidas para maximizar a produção. "Uma delas ocorrerá por meio da expansão das usinas já existentes. E também haverá os novos projetos (os chamados greenfields), além de aquisições", diz.
Apesar das expectativas otimistas do mercado, o consumo deve sofrer com falta de etanol já no médio prazo. "A estimativa é que o percentual de veículos flex rodando com etanol vai cair para 45%, ante os 65% atuais", diz Arnaldo Corrêa, gestor de riscos e diretor da Archer Consulting, empresa especializada em gerenciamento de riscos em commodities agrícolas.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Petrobrás importa 600 mil barris de gasolina para demanda interna

Estatal deve encerrar 2011 com média diária de 30 mil barris importados de gasolina

O diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, disse nesta segunda-feira, 26, que a companhia já importou uma segunda carga de 600 mil barris de gasolina, para suprir a demanda interna. Segundo ele, a Petrobrás deverá encerrar 2011 com uma média diária de 30 mil barris de gasolina importados, ante uma média de 7 mil barris por dia no ano passado. No primeiro semestre, já haviam sido importados 2,5 milhões de barris, ante 3 milhões de barris no ano passado.

Além do crescimento do consumo do combustível - em torno de 10% sobre o volume vendido ano passado - há ainda a redução da mistura de anidro na gasolina - de 25% para 20% - que deverá pressionar ainda mais a demanda a partir do dia 1º de outubro.

"Além destas duas cargas acredito que vamos precisar importar bem mais", disse o diretor em entrevista realizada há pouco, logo após ele participar de evento que marcou a adesão dos municípios localizados no entorno do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) ao Convênio Excelência na Gestão de Investimentos.

Assinado entre a Petrobrás, a Caixa Econômica Federal, o Ministério das Cidades e a Fundação Getúlio Vargas, o convênio busca viabilizar a implementação de projetos de infraestrutura nos municípios da região, que serão diretamente impactados pelas obras do Comperj. Segundo o diretor, o convênio visa preparar os municípios para apresentarem projetos pertinentes para aproveitar os recursos destinados à infraestrutura. Inicialmente, a Caixa Econômica Federal conta com recursos de R$ 1,2 bilhão para estas obras.

Corte de 1 ponto na Selic entra em pauta

O papo no mercado de juros futuros é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode acelerar o ritmo de corte da Selic para um ponto percentual no encontro de outubro.

Os contratos de juros futuros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) ilustram bem esse quadro.
Antes eram a crise, o dólar que parou de subir e os motivos técnicos que explicavam o recuo nas taxas futuras.
Taxa de juro real cai a 4,5% e faz nova mínima histórica
Agora é tudo isso e mais o noticiário dando conta de que as autoridades brasileiras que estiveram nas reuniões realizadas nos Estados Unidos voltaram mais assustadas com a gangrena do cenário externo.
As taxas voltaram a derreter ontem, e o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2013 fez nova mínima histórica a 10,24%, queda de 0,22 ponto percentual.
Na sexta-feira, as taxas futuras já tinham desabado em cima da tese de que o dólar forte não atrapalhará a inflação, pois o governo já se mostrou disposto a conter movimentos atípicos de alta de preço da moeda americana.
A novidade na segunda-feira foi a difusão da percepção de que quem voltou de Washington teve uma "confirmação" da tese de que a crise externa é cada vez mais alarmante.
Com isso, o plano de voo que trabalha com redução de juro básico e deflação externa fazendo se sentir aqui fica mais do que reforçado.
Por ora, no entanto, a piora externa não melhorou a inflação presente e prospectiva.
O Focus mostra Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do teto da meta de 6,5% em 2011 e em 5,52% no encerramento de 2012.
Quando o BC cortou a Selic em 31 de agosto, o Focus mostrava inflação oficial de 6,31% para o ano corrente e de 5,20% para o fim do próximo ano.
Nesse período, o que caiu foi o juro real, aquele que tira a inflação da conta e que realmente importa na tomada de decisão entre poupança e investimento.
A queda nas taxas de mercado e a piora nos prognósticos de inflação levam a taxa real de juro para nova mínima histórica de 4,50% ao ano.
A saber. O cálculo considera o swap 360 dias de 10,52% e a previsão em 12 meses para o IPCA, que subiu a 5,76%. Antes da última reunião do BC essa taxa real estava em 5,48%.
Para alguns participantes do mercado, o "modo turco" de política monetária foi ativado.
O juro vai para baixo e o câmbio será balizado pelas atuações do governo.
Fica em aberto se a inflação por aqui pode testar os dois dígitos como na Turquia em 2008 para depois recuar.
Por lá, o índice de preços ao consumidor ficou ao redor de 6,5% em 2009 e 2010, mas está estimado em 8% para 2011.
Novas pistas sobre como o BC enxerga o cenário podem vir hoje, com o discurso do presidente da instituição, Alexandre Tombini, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Ainda na semana o Relatório de Inflação, que pode ser decisivo para o mercado fechar as apostas sobre o rumo da Selic.
Olhando para o mercado externo, o dia foi de firme alta nas bolsas de valores.
Os analistas falavam em "esperança" de que o Banco Central Europeu (BCE) adote novas ações para conter a crise de endividamento soberano.
De concreto mesmo, o que se vê são os CDSs de França e Alemanha rondando máximas históricas. Os "Credit Default Swaps", espécie de seguro contra calotes, vêm em trajetória ascendente desde que o BCE passou a comprar títulos de países periféricos.
Na época, um estrategista notou que ao fazer isso, o BCE tirava o risco antes concentrado em países periféricos como Grécia, Espanha, Itália, Irlanda e Portugal e o trazia para o centro da zona do euro.
Os CDSs confirmam essa história e a mesmíssima coisa deve ocorrer se virar fato a ideia de se fazer um "bônus comum europeu" ou mesmo de se reforçar o Fundo de Estabilização Financeiro da Europa (EFSF, na sigla em inglês).
O que se pode concluir diz esse mesmo estrategista é que a Alemanha e a França, principalmente, vão resgatar as economias que estão em crise, o que pode ter resultado negativo para a zona do euro.
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"A disparada dos CDSs da França e Alemanha indica que haverá uma piora do fundamento desses países ao socorrer os outros que se encontram perto da falência. E o risco embutido nisso é de a região como um todo ser puxada para o centro da crise", conclui.
No câmbio local, o dólar comercial caiu ontem 1%, subiu mais de 2% e terminou o dia com leve baixa de 0,38%, a R$ 1,822 na venda.
Atenção à movimentação dos estrangeiros na BM&F. Na semana passada, esses agentes compraram mais de US$ 7 bilhões em contratos de dólar futuro.

Governo fica mais pessimista com crise externa

De volta dos EUA, Mantega avaliou, juntamente com a presidente Dilma, que o diagnóstico da crise financeira mundial mudou e que pode exigir a adoção de novos ajustes na política econômica


O governo fez uma reunião "tensa" ontem no Palácio do Planalto. De volta dos Estados Unidos, onde se encontraram com autoridades de outros países e com empresários, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliaram que o diagnóstico da crise financeira mundial mudou. A situação está pior do que se esperava e pode exigir a adoção de novos ajustes na política econômica. O mercado já começa a apostar que o Banco Central (BC) poderá acelerar a queda dos juros.
Dilma e Mantega retornaram pessimistas e com a expectativa de que a crise na Grécia pode ter um desfecho ainda esta semana, com consequências imprevisíveis sobre o sistema financeiro europeu e, portanto, sobre a economia mundial. A presidente conversou com presidentes de vários países e com investidores e empresários, em Nova York.
Já o ministro Mantega participou da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington. Conversou com ministros das Finanças e banqueiros centrais. Durante a semana passada, Dilma e Mantega trocaram telefonemas e por tudo o que ouviram de interlocutores qualificados não descartam a oficialização de uma moratória na Grécia ainda esta semana.
"Algo deve acontecer. A Grécia está por poucos dias", disse uma alta fonte oficial. O governo brasileiro "está a postos" para agir e, se necessário, adotará medidas conforme o desenrolar da crise na Zona do Euro e suas consequências sobre o sistema financeiro europeu, assegurou a fonte.
Até a semana passada, a expectativa do governo era que haveria um agravamento da crise lá fora, mas sem ruptura, como a que ocorreu em meados de setembro de 2008, quando o banco americano Lehman Brothers quebrou. A nova rodada da crise confirmaria o desaquecimento na economia mundial, refletindo-se numa contração adicional àquela que a economia brasileira já vem enfrentando, mas com os mercados funcionando normalmente.
Foi com base nesse cenário que o governo decidiu aumentar o superávit primário das contas públicas em R$ 10 bilhões (0,25% do PIB) em 2011 e comprometer-se com o cumprimento de meta cheia de superávit também entre 2012 e 2014. Foi também com base nesse cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu, no fim de agosto, a taxa básica de juros (Selic), de 12,5% para 12% ao ano, num movimento que surpreendeu o mercado.
Hoje, segundo avaliações colhidas em Washington, a realidade se mostra mais grave, o que pode obrigar o governo a adotar novas medidas. Por enquanto, não se definiu ainda o que será feito, mas Brasília se colocou em estado de alerta. No mercado, já se fala que o Copom poderá reduzir a Selic, na reunião de 19 de outubro em 0,75 ponto percentual ou até mesmo em 1 ponto.
Na ata da última reunião, o Comitê sinalizou corte de 0,5% ponto percentual dos juros em outubro. A piora do cenário internacional está levando o mercado a apostar, no entanto, num movimento mais forte por parte do Copom. Hoje, o presidente do BC, Alexandre Tombini, falará à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Seu depoimento é aguardado porque ele deve indicar como está vendo a situação mundial e sinalizar futuras ações do BC.
Tombini retornou de Washington com a certeza renovada de que não errou no diagnóstico que levou o Copom a cortar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual. Ao contrário, as conversas das autoridades monetárias internacionais e altos representantes do mundo das finanças, no fim de semana, só aumentaram o pessimismo sobre o futuro da crise na Zona do Euro e sobre o fraco dinamismo da economia americana.
Essa impressão foi reforçada ontem pela decisão do presidente do banco central de Israel, Stanley Fischer, de reduzir a taxa de juros de 3,25% para 3% ao ano, mesmo diante do fato de a inflação do país estar acima da meta oficial - 3,4% em 12 meses, face à meta de 1% a 3%. A medida surpreendeu analistas em todo o mundo, mas, nas reuniões do fim de semana em Washington, Fischer, um ex-dirigente do FMI considerado ortodoxo, teria relativizado a preocupação com a alta inflacionária neste momento.
"Isso mostra o quão preocupados estão os banqueiros centrais com o que eles ouviram em Washington. Fischer alegou que no ano que vem pode ocorrer deflação e não inflação. Ele deixou claro, nos debates, que a questão da inflação neste momento é irrelevante", revelou ao Valor um participante dos encontros na capital americana.
No caso brasileiro, prossegue a convicção do BC de que a inflação em 12 meses cairá dois pontos percentuais entre outubro deste ano e abril do ano que vem, ficando mais próxima da meta de 4,5%. O quadro, no entanto, é incerto para se vislumbrar o que vai ocorrer após esse período.

Nova geração de investidor dá mais força à inovação

Saul Singer, escritor e especialista em inovação: em Israel, país campeão em empresas novatas, mercado é menos avesso ao risco que no Brasil


Uma mudança no mercado brasileiro está tornando o cenário mais atrativo para as empresas de inovação nascentes. Na cadeia de investidores, a figura do investidor-anjo - empresas ou pessoas físicas que investem pequenas quantias em companhias iniciantes - começa a se tornar mais comum. Em alguns casos, são os antigos donos de empresas novatas, que se mostraram bem-sucedidas e acabaram compradas, que estão usando parte desses ganhos para financiar outras "startups".
O mesmo movimento foi observado há algumas décadas em grandes polos de inovação como o Vale do Silício, na Califórnia, e a cidade de Boston, diz Leslie Charm, professor de finanças para empreendedores do Babson College, nos Estados Unidos. "O cenário de inovação no Brasil mudou rapidamente nos últimos cinco anos e a tendência é que surjam novos investidores-anjos no curto prazo", afirma o especialista. O Babson College fica em Boston, onde se situam milhares de empresas novatas criadas principalmente a partir de projetos nascidos no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Para Charm, o fato de empresários brasileiros investirem em companhias nascentes transmite ao mercado internacional uma impressão de confiança nos projetos de inovação existentes. "Existe um grupo de cerca de 75 investidores que buscam projetos de inovação pelo mundo. O cenário atual do país coloca as 'startups' brasileiras na mira desses investidores", afirma o professor.
Donos de ex-novatas bem-sucedidas, como Romero Rodrigues, do BuscaPé, investem em projetos de terceiros
Alguns desses novos investidores-anjos fizeram aportes recentemente. O caso mais emblemático no setor de tecnologia é o de Romero Rodrigues, um dos fundadores do site comparador de compras BuscaPé, que foi adquirido em 2009 pelo grupo sul-africano Naspers, por US$ 342 milhões, o valor mais alto já pago por uma novata brasileira de internet. Rodrigues segue como executivo-chefe do BuscaPé, mas investe parte dos seus ganhos em empresas nascentes. A mais recente foi a Shoes4You, loja virtual de sapatos femininos, lançada neste mês.
Outro caso é a Movile, empresa de serviços para a área de telecomunicações, como serviço de marketing e aplicativos para celulares. A empresa foi fundada em 2000 e, dois anos depois, recebeu aporte da Rio Bravo Investimentos. Em 2008, o Naspers entrou como investidor para acelerar o processo de internacionalização. Em 2010, a empresa fundiu as operações com a Cyclelogic e expandiu sua atuação para oito países na América Latina. Fabrício Biosi, executivo-chefe da Movile, diz que a receita cresceu 20 vezes em três anos, chegando a R$ 30 milhões em 2010.
Biosi faz parte de um grupo de 50 empresários de Campinas, que lançaram em janeiro o Inova Ventures Participações (IVP), um fundo de R$ 2,5 milhões voltado para financiar "startups". Também foi observado em Campinas um movimento de empresas que destinam recursos para empregados criarem suas startups. Companhias como CI&T, Concrete Solutions e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) reservam de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões para esses investimentos, que já beneficiaram 22 projetos em um ano.
Os novos investidores somam-se a grupos que já investiam em companhias iniciantes, como Gávea Angels, Bossa Nova Investimentos, Floripa Angels e Antera Gestão de Recursos. Charm diz que o surgimento de novos investidores, associado a um quadro de "startups" que operam em parceria com universidades deve contribuir para a formação de grandes polos de inovação. "O Brasil pode se ter o seu Vale do Silício, à medida que a aversão ao risco diminui no país", afirma.
Saul Singer, especialista em inovação e coautor do best seller "Nação Empreendedora: O milagre econômico de Israel e o que ele nos ensinou", vê no mercado brasileiro um cenário similar ao da Europa, onde os investidores ainda preferem opções mais conservadoras que uma "startup". Os juros altos, afirma, diminuem o interesse de investidores em negócios mais arriscados.
"Há uma tendência no Brasil a pensar que empreendedores que fecham a empresa são fracassados, mas a falha é normal", diz. Em Israel, que tem maior proporção de "startups" em relação ao total de empresas, com 3 mil a 4 mil empreendimentos, mais de 40% das companhias novatas fecham antes de dois de existência, como no Brasil. "A diferença é que, em Israel, há 60 anos os empresários estão se dispondo a correr riscos."

ANP avalia a redução do conteúdo local

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estuda mudanças nas regras que exigem conteúdo local nos equipamentos das empresas que participam das licitações do órgão. Já na próxima rodada de licitações poderá valer uma nova determinação, reduzindo a lista de itens para os quais vale a exigência de um mínimo de componentes fabricados no país. Além disso, a agência estuda a possibilidade de mudar o sistema de cobrança para empresas que não cumprirem as exigências, reduzindo as multas e criando um sistema de créditos que deverão ser investidos no fomento a setores industriais específicos, determinados pela ANP, mas geridos pelo setor privado.


ANP deve simplificar exigências de conteúdo local
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estuda aperfeiçoar as regras de conteúdo local para equipamentos utilizados na produção e exploração de petróleo no país. Algumas mudanças devem ocorrer antes da realização da próxima rodada de licitações. O órgão regulador planeja simplificar as exigências de produção nacional já para a 11ª rodada, reduzindo a lista de itens que devem seguir as diretrizes de componentes brasileiros. O objetivo é direcionar o desenvolvimento de setores da indústria considerados mais importantes.
Além disso, a agência estuda a possibilidade de reduzir a cobrança de multas para quem não cumprir os limites, com a implantação de um sistema de créditos, que deverão ser investidos no fomento a setores industriais específicos, apontados pela ANP, mas geridos pelas próprias empresas que deixarem de cumprir o conteúdo local. Essa mudança levará mais tempo para ser aprovada e não deverá ficar pronta a tempo da próxima rodada, no primeiro semestre de 2012.
As propostas para a 11ª rodada já foram entregues ao governo, que ainda não se manifestou, de acordo com o chefe da Coordenadoria de Conteúdo Local da ANP, Marcelo Mafra. Segundo ele, a tabela de exigências da ANP é "muito extensa", o que leva à necessidade de enxugamento para dar maior foco à indústria, evidenciando as áreas que espera desenvolver e concentrar os investimentos. Alguns itens hoje incluídos poderão ser agrupados.
"Estou dando foco, mostrando no primeiro momento o que é estratégico. Não vai ser o parafuso. Se tenho uma árvore de natal [conjunto de válvulas que controla a pressão e vazão de um poço] para olhar, por que vou olhar o parafuso? Parafuso a gente já produz, se não está vendendo é porque não é competitivo, ou porque está cobrando muito caro. Se a gente for abraçar o mundo com as pernas, não vai ter conteúdo local", disse.
Ele explicou que, pelas regras atuais, são 69 os itens incluídos na política de conteúdo local para os quais o operador de uma exploração de petróleo precisa indicar uma oferta mínima e o seu impacto no investimento.
"Esse exercício de preencher 69 linhas imaginando um projeto futuro que vai ser desenvolvido daqui a dez anos é muito complicado", disse. "A chance de essa distorção gerar uma multa de conteúdo local é grande."
Já as mudanças nas regras de conteúdo local, que deverão ficar prontas apenas para a realização da 12ª rodada de licitações, visam tornar mais ágil o desenvolvimento da indústria brasileira de fornecedores de petróleo, sem ficar presa à burocracia do governo. As multas por não cumprimento do limite mínimo de produção de componentes poderão ser transformadas em crédito para fomento à indústria. A ideia é que a empresa multada deposite o valor referente em uma conta de desenvolvimento da ANP, e apresente um projeto para o setor apontado pela agência.
"O dinheiro que a empresa paga diretamente com a GRU (guia de recolhimento da União) vai para a conta única da União. Até eu pegar esse recurso, jogar na conta da ANP para transformar em um projeto, já perdi alguns anos preciosos", disse Mafra.

Para Shell, etanol deve ganhar espaço, mas custos elevados ainda são entrave

"Ficou difícil justificar novas plantas de etanol dado o aumento de 40% no custo do etanol", disse Williams, da Shell


O etanol tende a ganhar fatia cada vez maior no mercado global de combustíveis, na visão da anglo-holandesa Shell, sócia da brasileira Cosan na Raízen. "Esperamos que a longo prazo a participação do etanol nos combustíveis cresça", disse ao Valor Mark Williams, vice-presidente mundial da área de distribuição da Shell. Segundo o executivo, o etanol equivale hoje a 3% da demanda mundial de gasolina, percentual que pode chegar a 10% nos próximos anos.
Dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) elaborados pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) mostram que, em 2008, o consumo mundial de gasolina foi de 20,8 milhões de barris/dia. Os 3% de etanol corresponderiam a cerca de 600 mil barris/dia. E os 10% previstos por Williams equivaleriam a 2 milhões de barris por dia considerando os dados da IEA.
Williams disse que a Shell utilizará a Raízen como plataforma de crescimento para a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar. Segundo ele, há muitas oportunidades para investir em etanol no Brasil, mas é preciso ganhar eficiência na produção. Os ingredientes para aumentar a produção de etanol, incluindo a oferta de terras, estão disponíveis. Mas, para Williams, ficou difícil justificar o desenvolvimento de novas plantas dado um aumento de cerca de 40% no custo de produção do etanol.
A Raízen é a primeira experiência da Shell na produção de biocombustíveis. A joint venture planeja investir US$ 7 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos. Cerca de US$ 5 bilhões serão para ampliar a produção de etanol, açúcar e energia elétrica cogerada. O restante dos recursos irá para a rede de postos de combustíveis - hoje a Raízen tem uma rede de 4,5 mil postos, entre Shell e Esso - e operações de logística.
A perspectiva da Raízen, que começou a operar de forma integrada em 1º de junho, é sair de uma capacidade atual de moagem de cana de 65 milhões de toneladas para 100 milhões de toneladas em cinco anos. No período, vai mais do que dobrar a produção de etanol, saindo de uma capacidade atual de 2,2 bilhões de litros para 5 bilhões de litros por ano.
Williams admitiu que a meta, num prazo curto, é ambiciosa. Disse que a Shell está "feliz" em ter a Cosan como sócia e que não há um compromisso, mas pode haver uma oportunidade de comprar a participação do sócio na Raízen no futuro. Mas não há qualquer decisão tomada na Shell sobre esse assunto.
Segundo o executivo, há três formas para ampliar a capacidade de produção de etanol. Uma é comprar plantas existentes e áreas plantadas. Outro caminho é a expansão de usinas já existentes. A terceira opção é construir novas unidades. "A Raízen considera as três alternativas." Na safra 2011/12, espera-se que a Raízen tenha um volume de cana de açúcar moída entre 53 milhões e 56 milhões de toneladas.
Ele disse não temer a concorrência da Petrobras no setor. "Há muito espaço no mercado de etanol para Raízen e Petrobras. O setor de produção de biocombustíveis é fragmentado no Brasil. E há oportunidade para players fortes trazerem tecnologia e eficiência, que sempre são bem-vindas no mercado", avaliou. A Raízen deve atingir 1,4 milhão de hectares plantados com cana de açúcar na safra 2016/17.
A estratégia da Shell para o setor prevê ainda pesquisa e desenvolvimento relacionada à segunda geração de biocombustíveis, disse Williams. Segundo o executivo, a empresa é hoje a maior compradora mundial de etanol, com um volume que chegou a 9,5 bilhões de litros em 2010. É também a empresa que mais mistura álcool à gasolina por força de legislações que obrigam à adição de etanol ao combustível fóssil em cerca de 50 países, incluindo EUA e Brasil. No primeiro, a adição de etanol à gasolina é de 10% de etanol à gasolina. No Brasil, o governo reduziu o percentual de mistura de 25% para 20% a partir de 1º de outubro.
Para Mark Williams, existem incertezas para o uso futuro do etanol na Europa, mas é possível ver o continente avançar para percentuais de mistura na gasolina entre 5% e 7%. A China, observou, está entusiasmada com o desenvolvimento de tecnologias de biocombustíveis enquanto a Índia, que tem um setor agrícola robusto, tem interesse no setor.

Eficiência depende de avanço tecnológico

Os custos de produção de etanol, em curva crescente, tornam urgente um avanço significativo da tecnologia usada para fabricar o biocombustível. Para especialistas, disso depende também a viabilidade futura do produto feito de cana-de-açúcar, que perdeu competitividade neste ano até em relação ao etanol de milho americano.
Há 30 anos, lembra Arthur Yabe, gerente setorial do Departamento de Biocombustíveis do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com uma tonelada de cana se produzia 3 mil litros de etanol. Ao longo dos anos, as tecnologias foram evoluindo a ponto de esse desempenho estar hoje em 7 mil litros.
Mas já há esgotamento dos ganhos de produtividade no sistema atual, diz Yabe. "Adicionar ganhos a esses patamares está cada vez mais difícil". O banco de fomento, em parceria com a Finep, vai destinar pelo menos R$ 1 bilhão este ano para pesquisas que busquem tecnologias para agregar palha e bagaço ao processo de produção de etanol e outros produtos energéticos, a exemplo de estudos para tornar economicamente viável o etanol celulósico.
Especialistas também acreditam serem necessárias mudanças no modelo de negócio existente hoje. O diretor de Finanças Corporativos da Czarnikow Group, Tiago Medeiros, defende que o setor precisa deixar de ser "superintegrado", ou seja, de concentrar todos os investimentos do processo.
"É preciso que outros investidores participem mais da cadeia de valor. Isso inclui mais terceirização do plantio de canaviais, de mecanização e de cogeração de energia", exemplifica Medeiros.
Atualmente, em torno de dois terços da cana é produzida ou gerenciada pelas próprias usinas. O resto, por fornecedores, informa Marcos Fava Neves, professor de Estratégia da USP. Mas esse cenário deve mudar, avalia. "Entram no setor empresas do ramo petroleiro, tradings, etc, que terão menos incentivo para gerir as áreas agrícolas", completa.
Além disso, afirma ele, os custos de produção de cana vêm se elevando consideravelmente, bem como o preço das terras. "O imobilizado para as usinas pode diminuir bastante, facilitando e financiando a expansão industrial"
Fábio Venturelli, CEO do grupo São Martinho, considerada uma das companhias de maior eficiência operacional por especialistas do setor, acredita que com a terceirização é possível dividir investimento, mas também significa dividir valor. Além disso, diz ele, a produção da cana é regida por legislação - ambiental e trabalhista - que impacta de "forma brutal" no modelo do fornecedor. "Trata-se de uma sofisticação incrível que traz ônus muito grande para os fornecedores menores", diz.
O CEO da São Martinho não acredita que um modelo de consolidação em oferta de cana-de-açúcar vá funcionar. "Quando esse grande fornecedor de cana existir, ele vai querer construir uma usina pois já vai ter 80% do custo da produção, que é a cana", avalia Venturelli. Ele vê vantagem na terceirização de atividades que não sejam "essenciais" da usina. Entre elas, a de transporte de vinhaça, por exemplo.
Para o executivo, o que pode de fato fazer diferença no crescimento do segmento é o adequado financiamento da lavoura de cana. Além de uma equação bem definida que envolva aquisição de maquinário, plantio e renovação de canavial, são necessárias linhas de crédito para plantio que considerem a cana como ativo, na opinião de Venturelli. "O crédito rural tem um ano de carência, mas o ciclo da cana é de cinco anos". (FB)

Incertezas desestimulam novas usinas

Carlos Eduardo Cavalcanti, do BNDES, considera natural que grupos queiram otimizar suas usinas já existentes


Após a onda de investimentos sucroalcooleiros da década passada, frustrada pela crise mundial a partir de 2008, pairam incertezas sobre o fôlego do novo ciclo de crescimento do setor. Neste ano, os grandes players anunciaram aportes de mais de R$ 4,5 bilhões, mas a maior parte desse montante é para ampliar usinas já existentes. Estas necessitam de menos capital por tonelada de capacidade instalada do que usinas novas, cuja implantação ainda esbarra em custos altos de etanol, margens apertadas e políticas públicas ainda turvas.
Mesmo entre os grandes grupos ainda é baixo o interesse na construção de unidades a partir do zero. A instituição financeira que mais vem financiando o setor nos últimos anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem hoje em carteira apenas dois projetos enquadrados para construção de usinas novas. Outros dois estão em perspectiva de serem enquadrados.
A maior parte do montante do anunciado este ano será aplicado pela multinacional americana Bunge. Serão US$ 2,5 bilhões entre 2012 e 2016 para elevar a capacidade de moagem de suas oito usinas no país, de 21 milhões para 30 milhões de toneladas por safra. A Nova Fronteira Bioenergia (Petrobras e São Martinho) informou também aporte de R$ 520,7 milhões para elevar de 3 milhões para 8 milhões de toneladas a capacidade da usina Boa Vista, em Goiás.

Sem informar valores, a BP (ex-British Petroleum) anunciou este mês a expansão da capacidade de suas usinas já existentes. Esse investimento não está incluído nos R$ 4,5 bilhões. A petroleira também garantiu que construirá outras três unidades até 2020, apesar de ainda não ter mencionado quanto aplicará nos chamados "greenfields". Cargill e o grupo USJ também anunciaram ampliação nas usinas de Goiás, sem, porém, informar recursos.
A maior empresa do segmento, a Raízen (Cosan / Shell) promete anunciar nos próximos meses como vai elevar de 60 milhões para 100 milhões de toneladas sua capacidade de moagem de cana. Mas, por enquanto, também toca seu projeto de ampliação das unidades já existentes.
Enquanto os investimentos ainda avançam em ritmos de "recuperação", multiplicam-se as projeções sobre a necessidade de expansão nas próximas décadas para atender à demanda. Uma das consultorias internacionais mais importantes do setor, a Czarnikow Group projetou que até 2030 o Brasil precisará, em um cenário conservador, de investimentos da ordem US$ 338 bilhões para atingir processamento de cana de 1,4 bilhão de toneladas - atualmente são 600 milhões de toneladas.
Em um horizonte mais curto, de dez anos, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) prevê ser necessário investir US$ 80 bilhões na construção de mais de uma centena de usinas no país, que juntas agregariam mais 400 milhões de toneladas à capacidade atual.
Mas o que será possível realizar e a que tempo, ainda são questões sem resposta. Marcos Jank, presidente da Unica, volta a bater na tecla do preço estável da gasolina no Brasil, que limita a remuneração aos produtores de etanol. Se for resolvida essa questão, diz Jank, um novo ciclo de crescimento tem grandes chances de deslanchar. "Há vigor financeiro. Em cinco anos o país construiu mais de 100 usinas", lembra Jank.
Ele se refere ao período entre 2005 e 2010 quando o Centro-Sul recebeu cerca de US$ 50 bilhões (investimentos industriais) para construção de 112 indústrias de açúcar e etanol. Na época, a capacidade fabril de moagem dobrou para 600 milhões de toneladas.
Nesse mesmo intervalo, entre 2005 e 2010, só o BNDES participou com desembolso de R$ 27,1 bilhões ao setor. Nos nove meses deste ano (até 19 de setembro), R$ 3,88 bilhões foram liberados para projetos sucroalcooleiros, 50% do registrado em todos os 12 meses de 2010 (R$ 7,5 bilhões).
É natural que neste momento os grupos busquem otimizar o canavial e a indústria já existentes antes de partir para novos projetos, avalia Carlos Eduardo Cavalcanti, chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES.
A instituição está confiante de que a "musculatura" do segmento para investir está mais forte. "Quando começou o boom, a partir de 2005, o setor não tinha grandes grupos como Petrobras, BP, Cargill e Bunge, e ainda assim investiu muito. Agora, será possível fazer mais", diz Cavalcanti, referindo-se ao perfil de dívida mais estruturado dessas companhias.
Mas mesmo para elas, o avanço dos custos de produção de etanol segue pressionando margens e o ânimo para investir em usinas novas. Segundo a Czarnikow Group, o custo operacional do hidratado, descontados impostos, foi de R$ 0,43 por litro na safra 2000/01, metade dos R$ 0,89 do ciclo 2010/11. Para a safra em curso, a 2011/12, esse valor está em R$ 0,95 por litro. "Como os preços do etanol têm limites para subir [gasolina], o custo alto significa um hidratado cada vez menos competitivo", diz Tiago Medeiros, diretor de finanças corporativas da Czarnikow.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

COMPETITIVIDADE

Paulo Skaf, presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, inicia nesta semana seu terceiro mandato na Fiesp e seu segundo no Ciesp, que vai até 2015. 

Metade da diretoria que toma posse hoje mudou. Dos vice-presidentes, permanecem Benjamin Steinbruch (CSN) e João Guilherme Sabino Ometto (S. Martinho). Josué Gomes da Silva (Coteminas) entra no lugar de Paulo Setubal (Duratex). 
"A palavra na nova gestão será competitividade", diz Skaf. "Pensando no país, precisa cortar imposto, em vez de aumentar, reduzir o custo da energia, melhorar a logística, que é cara, a educação, que é falha..."
 

Nos próximos dois anos, Skaf, que também comanda o Sesi (Serviço Social da Indústria de SP), planeja concluir a construção de cem escolas e reforma da rede, que passou a oferecer o ensino médio, em tempo integral, um investimento de cerca de R$ 3 bilhões. 

Em 2011, são 200 mil matrículas no Sesi e 1 milhão no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

Recorde bilionário

Com um cenário que não prevê o agravamento da crise internacional, a indústria de mineração projeta investimentos recordes no Brasil entre 2011 e 2015. Apoiada na crescente urbanização das economias emergentes, como China e Índia, o setor prevê aplicações de US$ 68,5 bilhões em projetos para ampliar a produção de metais. O carro-chefe será o minério de ferro, que deverá receber dois terços dos recursos, para mais que dobrar sua produção para 771,5 milhões de toneladas em 2015.


No médio prazo, o horizonte também é otimista: de acordo com o Plano Nacional de Mineração, divulgado em fevereiro, os investimentos em pesquisa mineral, mineração e transformação mineral somarão US$ 270 bilhões até 2030, podendo chegar a US$ 350 bilhões se forem acrescidos os desembolsos em infraestrutura e logística. Mas, para o país ganhar mais espaço na concorrência com a América Latina, África, Ásia e Oceania, será preciso superar obstáculos, como a elevada carga tributária sobre a produção, altos preços da energia elétrica, a deficiente infraestrutura de transportes e a necessidade de maior conhecimento geológico.
Em 2009, metade da população mundial se concentrou em cidades e a outra, no campo. Até 2050, a relação mudará: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), dois terços do planeta habitarão a zona urbana. Um exemplo dessas transformações é a China: nos próximos 25 anos, 800 milhões de chineses irão para as cidades. A expansão chegará às ruas: hoje, o país tem uma média de 34 carros por mil habitantes. Em 2020, essa relação chegará a 100 carros para mil chineses. O país asiático, que vem construindo 7 milhões de moradias por ano, terá 25 cidades com mais de 20 milhões de habitantes. "A urbanização dos emergentes impulsionará a demanda", diz Paulo Camilo Vargas Penna, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), para quem o balanço entre oferta e demanda ficará apertado até 2015.
Os novos investimentos poderão reforçar o peso do setor na balança comercial verde-amarela. Em 2006, as exportações do setor mineral somaram US$ 11 bilhões, com importações de US$ 4,5 bilhões, resultando em um saldo de US$ 6,5 bilhões. Em 2010, os embarques chegaram ao recorde histórico de US$ 35,3 bilhões (17,5% dos US$ 202 bilhões exportados pelo país no ano passado), com importações de US$ 7,7 bilhões, saldo de US$ 27,6 bilhões. Para este ano, projeta-se superávit de US$ 33 bilhões, com exportações de US$ 43 bilhões, novo recorde.
"A demanda permanecerá aquecida enquanto países emergentes mantiverem altos seus níveis de consumo o que elevará o nível dos preços internacionais das commodities minerais. Esses países têm uma árdua tarefa: aumentar a renda per capita e o padrão de vida dos habitantes, além de urbanizar as populações. Isso demandará grandes quantidades de minerais", afirma Sérgio Augusto Dâmaso de Sousa, diretor-geral do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
"O país passa por um momento único de desenvolvimento que pode ser verificado pela maior demanda de bens minerais, pelos investimentos em infraestrutura necessários para a realização de eventos a serem realizados no país, como a Copa do Mundo de 2014", diz o diretor do DNPM. Cenário tão promissor será discutido no 14º Congresso Brasileiro de Mineração, que se inicia hoje em Belo Horizonte (MG) e se prolonga até o dia 29.
Novas fronteiras, como fertilizantes e terras raras, têm despertado a atenção dos investidores. O aumento da população mundial e a restrição à existência de novas fronteiras agrícolas exigem o uso de fertilizantes para elevar a produtividade.
Um dos maiores produtores mundiais de alimentos, o Brasil também é um dos maiores importadores de potássio e fosfato, usados na indústria de fertilizantes. "O Brasil terá de ter maior produtividade, evitando maior desmatamento, o que poderia fazer surgir barreiras não-alfandegárias, o que mostra a importância dos produtos", diz Penna. Assim, cresce o interesse das mineradoras pelos minerais agrícolas.
Outro foco de atenção são as terras raras, usadas em informática, ótica eletrônica, telecomunicações, motores híbridos e outros. "Fomos pioneiros na exploração e exportação na década de 1940, depois perdemos tradição", diz Ronaldo Luiz Santos, coordenador de processos metalúrgicos e ambientais do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. "Com o pré-sal, que exigirá o uso de novos materiais, um novo nicho se abre", diz o pesquisador. Hoje, o beneficiamento de óxidos de terra rara de elevada pureza é feito fora do país. "É preciso uma política específica para o segmento", defende Santos.
Se o cenário é otimista, há preocupações no horizonte. Uma delas se refere ao cenário macroeconômico internacional. "O momento é complexo, com EUA e Europa em crise, os emergentes preocupados com a inflação, o que pode fazer a China reduzir o crescimento com alta dos juros, e questões políticas no Oriente Médio e no Norte da África", diz Ronaldo Valiño, líder de mineração e siderurgia da PwC Brasil.
Apesar da turbulência, Valiño não acredita em um cenário semelhante ao de 2008, quando a crise derrubou os preços das commodities e postergou projetos. "A despeito dos riscos, as informações coletadas na cadeia produtiva apontam que a China tem investido mais do que o previsto nessa década e há expectativa de a Índia aumentar a demanda."
O peso da China é considerável. Com a maior produção siderúrgica do mundo, responde por cerca de 50% do mercado transatlântico de minério de ferro, além de importar outros metais. "É pouco provável que a crise no Atlântico Norte seja suficientemente intensa para prejudicar os investimentos na mineração de ferro brasileira, que visam a atender principalmente o crescente mercado asiático", afirma o professor Germano Mendes, da Universidade Federal de Uberlândia.
Segundo ele, na crise de 2008, a ociosidade da siderurgia mundial cresceu de 11% em junho para 21% em setembro do mesmo ano. "Agora, passou de 18% em abril de 2011 para 20% em julho, o que mostra a menor intensidade da crise e ajuda a explicar a relativa robustez dos preços spot do minério de ferro", diz Mendes. Para analistas, os preços do minério devem oscilar entre US$ 140 a US$ 180 no início de 2012.
Há outros entraves no segmento: a elevada carga tributária, que pode ser aumentada ainda mais com a nova taxação dos royalties, e as deficiências de infraestrutura, como a logística.
Pela proximidade com a China, a Austrália tem um custo de frete dois terços mais baixo que o do Brasil. Em paralelo, a alta do preço da energia elétrica é outro fator preocupante para as empresas mineradoras.
"As companhias têm uma lista de projetos muito relevante para o país, mas é preciso avançar na agenda de custos, porque o Brasil está no pódio quando se comparam os impostos sobre a produção de metais", afirma Penna, do Instituto Brasileiro de Mineração.
Outra dificuldade é que, apesar do rico subsolo, o Brasil ainda tem um baixo conhecimento de suas reservas, com um conhecimento geológico de cerca de 20% de sua extensão.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Biomassa tende a elevar participação na oferta de energia

A atual oferta mundial primária de energia gira em torno de 500 exajoules, tendo como principais protagonistas o carvão, o petróleo e o gás natural.
A biomassa participa com cerca de 10% do total, mas 80% da oferta advinda de biomassa é não comercial. São principalmente a lenha e a madeira usadas na cocção e no aquecimento em países onde a energia ainda não é produzida e distribuída de forma organizada. Essa é também a principal fonte de desmatamento nos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos. Os 20% que são comerciais são consumidos na forma de eletricidade, que representa 1,5 exajoule; geração de calor, 4 exajoules; e biocombustíveis, que representam 2 exajoules. Portanto, em nível global, os biocombustíveis ainda representam somente 0,4% da oferta primária de energia.
Não por outro motivo, a área agrícola ocupada pelos biocombustíveis no mundo é ainda pequena. O planeta possui 13,2 bilhões de hectares de terras, dos quais 1,53 bilhão é cultivado com todas as culturas. Pastagens, que produzem carnes, leite e lã ocupam outros 3,2 bilhões de hectares. No mundo, os biocombustíveis ocupam apenas 0,025 bilhão, ou 25 milhões de hectares; no Brasil, a cana destinada ao etanol ocupa apenas 4,7 milhões de hectares.
Embora o Brasil tenha perdido em 2007, para os Estados Unidos, a primazia de maior produtor de etanol do mundo, é o país que desponta como o que mais avançou em termos relativos.
O Brasil demonstrou que a produção de biocombustíveis é viável quando realizada a partir da cana. Em 2010, os Estados Unidos produziram 50,1 bilhões de litros de etanol, mas, considerando o etanol usado apenas como combustível, conseguiram substituir apenas 8% do seu consumo de gasolina. A meta é atingir 136 bilhões de litros até 2022.
Embora a atual safra brasileira esteja sendo muito afetada por clima absolutamente anormal, um esforço grande está sendo realizado na reforma e na expansão dos canaviais.

O objetivo é atender à demanda crescente de etanol no Brasil e nos Estados Unidos, especialmente porque a partir de 2012 o mercado dos EUA será totalmente liberado, com a eliminação do subsídio federal e do Imposto de Importação, abrindo perspectivas promissoras de expansão do comércio bilateral relacionado ao etanol.

PLINIO NASTARI é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da Datagro Consultoria.