Química: Nova companhia começa a operar a partir de setembro
Clamadieu, presidente da Rhodia: "As indústrias químicas querem usar material renovável. E o etanol brasileiro é o melhor"
O novo lider mundial da quimica resultante da aquisição da francesa Rhodia pela belga Solvay vai focar na utilização bem maior do etanol brasileiro em sua cadeia de produção, quando começar a operar em setembro.
Jean-Pierre Clamadieu, presidente global de Rhodia, disse aoValor que a nova companhia identificou o etanol brasileiro como a matéria-prima renovável com o melhor nível de competitividade, como elemento de base para a cadeia petroquímica "e isso exigirá o desenvolvimento de nossa produção no Brasil".
Por isso, uma das prioridades da nova companhia será o de desenvolver o acesso a matérias-primas renováveis, com parceiras com produtores, de um lado, e expansão de fábricas para utilizar o produto. Implicará, em todo caso, em investimentos futuros de centenas de milhões de dólares no país.
Clamadieu mostra-se entusiasmado com as possibilidades no uso do etanol de cana-de-açúcar na cadeia petroquímica. "As indústrias químicas querem usar material renovável. E claramente, o etanol brasileiro é o melhor, pela sua intrinseca competitividade. A produção brasileira é muito eficiente, mais do que na Europa ou América do Norte."
O executivo diz que a Rhodia foi uma das primeiras a usar etanol para uso industrial. Ele vê competidores com mais projetos na mesma direção, mas estima que o novo grupo "pode fazer mais".
Para Clamadieu, a nova companhia pode ampliar a capacidade de produção tanto por aquisições como expandindo as fábricas existentes da Solvay e Rhodia. "Estamos sempre olhando oportunidades no Brasil e continuaremos a fazer isso, mesmo se hoje não há alvo evidente de dimensão significativa", afirmou o executivo.
Os preços de aquisição tem aumentado, mas o executivo nota que em 2010 comprou uma empresa na China com múltiplos razoáveis, de forma que quer continuar se expandindo assim.
Atualmente, um terço dos investimentos em crescimento ocorre no Brasil, valor só superado pelos aportes na China. O Brasil representa 17% do faturamento da Rhodia. Na nova companhia, a América do Sul representará 14%.
O executivo admite alguns obstáculos a serem superados para maior uso do etanol. Primeiro, a tecnologia para produzir mais produtos químicos a partir do etanol. Isso explica o motivo para investir mais em pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de obter do etanol um desempenho economicamente viável. O grupo gastará € 200 milhões por ano nos vinte centros de pesquisa e desenvolvimento, um quarto deles situados na Asia e no Brasil.
O segundo obstáculo é assegurar contratos de longo prazo com fornecedores do biocombustível no país, "o que não é fácil". Em todo caso, ao contrário de alguns competidores, não quer entrar no controle direto de fábricas de etanol.
Tereos, grande produtora de etanol no Brasil, reagiu positivamente aos planos de parceria. "Isso mostra a importância e o tamanho do potencial do etanol", afirmou Alex Duval, presidente da Tereos Internacional.
O terceiro desafio é a continua intervenção do governo no setor, de forma que acaba pesando sobre o preço da matéria-prima.
O executivo reclama, por outro lado, do preço do nafta no Brasil, semelhante ao da Europa. Considera que o governo brasileiro regula exageradamente o preço da matéria-prima, cuidando dos interesses da Petrobras e não ajudando na competitividade da industria.
O plano do grupo é aumentar a exportação a partir do Brasil, que é hoje limitada a 25% da produção. Mas admite que os desafios são grandes, tanto logísticos, como tributários, câmbio etc. "Mas estamos nos habituando ao real forte, temos que ser competitivos."
A expectativa é de que a integração Solvay-Rhodia resulte em sinergias de custos anuais de € 150 milhões em três anos. O nome do novo grupo globalmente será Solvay, mas no Brasil será preservado o nome Rhodia em razão da firme e longa presença da companhia francesa no mercado brasileiro.
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