Fabiana Batista | De São Paulo
17/11/2010
Davilym Dourado/Valor
"Estamos renegociando preços dos contratos", afirma André Trucy, da Tereos
A alta dos preços dos grãos no mercado internacional ofuscou o bom momento das cotações do açúcar no balanço da Tereos Internacional, controladora da Açúcar Guarani, uma das maiores companhias sucroalcooleiras do Brasil. Com isso, a Tereos, desde meados deste ano listada na Bolsa de Valores de São Paulo, amargou prejuízo de R$ 18 milhões no segundo trimestre da safra 2010/11, finalizada em 30 de setembro, ante um resultado positivo de R$ 153 milhões em igual período da temporada 2009/10.
O mercado reagiu mal ao resultado da companhia, cujas ações tiveram forte queda na bolsa paulista. Os papéis fecharam valendo R$ 3,87 (ON), desvalorização de 9,15%, diante de um Ibovespa com queda de 1,67%. O açúcar, produto carro-chefe da Açúcar Guarani, também encerrou o dia queda, de 3,3%, na bolsa de Nova York.
O balanço da Tereos mostra que no acumulado dos seis meses da safra 2009/10 o saldo ainda é de prejuízo, de R$ 77 milhões, ante lucro de R$ 218 milhões em igual semestre de 2009. Desde junho deste ano, as cotações dos cereais subiram fortemente nas bolsas internacionais, alta que não foi repassada aos clientes da companhia ao longo desse segundo trimestre, explicou André Trucy, executivo-chefe da Tereos Internacional.
Ele avisa, no entanto, que desde setembro a companhia iniciou a renegociação de todos os seus contratos e está otimista de que conseguirá repassar o maior custo de aquisição de matéria-prima.
Além de amidos, feitos a partir de milho, a Tereos Internacional, de origem francesa, também produz etanol a partir de trigo, cujas cotações desde o início de junho subiram 49,92%, no segundo contrato na bolsa de Chicago, segundo o Valor Data.
No segundo trimestre da safra a Tereos Internacional registrou uma receita líquida de R$ 1,498 bilhão, 12,5% mais do que em igual período do ano passado. A expansão se deveu ao negócio de cana-de-açúcar, cuja receita saiu de R$ 408 milhões no trimestre encerrado em 30 de setembro de 2009 para R$ 744 milhões em igual intervalo deste ano. Já a receita do negócio de cereais recuou no trimestre de R$ 924 milhões em 2009 para R$ 751 milhões neste ano.
No acumulado dos seis meses da safra, a receita bateu R$ 2,578 bilhões, praticamente estável em relação ao mesmo intervalo de 2009 (R$ 2,576 bilhões).
O lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi de R$ 286 milhões no trimestre, alta de 44%, sendo que a operação de cana respondeu por R$ 228 milhões deste montante. Apesar de ser no Brasil a maior operação de cana-de-açúcar da Tereos, a companhia também atua com o negócio em regiões do Oceano Índico - Ilhas da Reunião e Moçambique.
O lajida ajustado da Açúcar Guarani cresceu de R$ 41 milhões no segundo trimestre da safra 2009/10 para R$ 189 milhões em igual intervalo desta temporada. Em dimensão semelhante foi o avanço da margem lajida ajustado que foi de 30,9% neste trimestre, ante 11,5% de igual trimestre da safra 2009/10.
Em grande parte, a aquisição de duas usinas neste ano - as unidades paulistas Mandu e de 50% da Vertente foi fundamental para o crescimento da moagem da Açúcar Guarani. Nos três meses findos em 30 de setembro, a empresa processou 8,751 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 67% mais do que em igual trimestre da safra passada. A produção de açúcar foi de 766 mil toneladas, 82,8% maior, e a de etanol de 340 milhões de litros, 87,8% maior.
A Tereos informou que, em 30 de setembro, sua dívida líquida estava em R$ 2,416 bilhões, 9,7% maior em relação ao registrado em 30 de junho deste ano e equivalente a 3,4 vezes seu lajida. De acordo com a companhia, esse aumento está em linha com a maior necessidade de capital de giro das operações de cana-de-açúcar. A dívida bruta está distribuída em 24,2% em real, 26,1% em dólar, 47,8% em euro e 1,9% em outras moedas.
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