Tom Polansek e Scott Kilman | The Wall Street Journal
14/10/2010
O governo Barack Obama abriu as portas ontem para a ampliação do uso do etanol em combustíveis que os americanos usam em carros e caminhões, um gesto que foi recebido com entusiasmo contido por grupos agropecuários e com hostilidade pelos setores de petróleo, alimentos e produção de veículos.
A decisão da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) de permitir que a gasolina contenha até 15% de etanol foi acompanhada de condições que podem desencorajar os donos de postos de gasolina e empresas que fazem a mistura dos combustíveis a oferecer mais do que a combinação com 10% de etanol aprovada para uso em todos os carros.
A mistura com 15% seria restrita a veículos fabricados a partir de 2007 e os postos de gasolina precisariam colocar rótulos claros nas bombas para evitar que os consumidores, por engano, coloquem a mistura de 15% em carros mais antigos, equipamentos usados fora das estradas, cortadores de grama e barcos, que não foram feitos para operar com álcool combustível.
A decisão da EPA ocorre em um momento em que o setor de etanol está manobrando para manter o apoio federal para o produto, em meio a sinais de que o Congresso pode reduzir esse suporte.
Duas medidas que beneficiam o setor - crédito fiscal de 45 centavos de dólar por galão para companhias que misturarem o etanol à gasolina, e uma tarifa sobre etanol de cana-de-açúcar do Brasil - expiram no fim do ano.
O presidente de um comitê da Câmara dos Deputados que analisa o assunto, deputado Sander Levin, propôs a extensão do crédito por um ano, mas com redução de 45 centavos para 36 centavos por galão (pouco menos que quatro litros). O Growth Energy, uma das principais associações do setor, propôs a extensão do incentivo, com redução gradual, e transferência dos recursos para créditos ou concessões para encorajar a instalação de bombas de mistura nos postos de gasolina.
Uma ideia em discussão é permitir que a tarifa expire e substituir o crédito fiscal atual - que, em grande parte, beneficia as refinarias - por créditos para produtores domésticos de etanol.
As incertezas em relação ao apoio para o etanol poderiam reforçar o dilema dos donos de postos de gasolina em relação a lidar com uma multiplicidade potencial de misturas de combustíveis.
Jeff Broin, diretor-presidente da grande produtora de etanol Poet LLC disse ontem que a gasolina combinada com 15% de etanol provavelmente será lançada em certas regiões dos EUA no fim do primeiro trimestre de 2011.
Outros estão menos otimistas. "Essa não é uma panaceia para a demanda para a indústria de etanol", diz Dustin Haaland, diretor de suprimentos de combustíveis renováveis da CHS, a maior cooperativa de produtores rurais dos EUA. Mesmo a sua rede de 1.400 postos de gasolina, localizados em áreas rurais onde o etanol é popular entre produtores de grãos, vai vender quantidades limitadas da gasolina apelidada de E-15.
Os postos de gasolina que querem vender a E-15 podem ter que investir em uma bomba específica e bem identificada para evitar equívocos com carros antigos. A instalação da nova bomba pode custar de cerca de US$ 18 mil a US$ 20 mil, de acordo com estimativas da Associação Nacional das Lojas de Conveniência. Um novo tanque subterrâneo pode custar US$ 100 mil ou mais.
A EPA disse que ainda considera se vai aprovar as misturas com 15% de etanol para os cerca de 86 milhões de carros produzidos entre 2001 e 2006. A decisão poderia criar mais conflitos entre os interesses de produtores rurais, montadoras e outros grupos.
A ADM, segunda maior produtora de etanol dos EUA, disse ontem que encorajaria a EPA a determinar o maior nível de etanol adequado para todos os veículos.
A deputada Stephanie Herseth Sandlin disse ser "crucial" que a agência permita o uso de porcentual mais alto de misturas de etanol em carros mais antigos.
As montadoras, por meio de suas associações, expressaram novamente ontem a preocupação de que carros mais antigos possam ser danificados por concentrações mais altas de etanol.
A maioria dos analistas de grãos estava perdida ontem ao tentar calcular quanto mais a indústria de etanol poderia vender por conta da medida da EPA, assim como quanto mais milho poderia ser consumido.
Ainda assim, os preços de milho já estão tão altos que as empresas de alimentos e criadores de animais não querem ver mais nenhum aumento do apetite da indústria de etanol.
Segundo previsões do Departamento de Agricultura dos EUA, o setor de etanol vai consumir 37% da colheita de milho atual.
(Colaboraram Naureen Malik e Timothy W. Martin)
Fonte: Valor On Line
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