Estratégia: Maior trading de açúcar e etanol do país retoma o desafio de crescer com controle de sua dívida
"O plano continua. Mas não conseguiremos acelerá-lo e nem aproveitar novas oportunidades que já estávamos antevendo", diz Souza (dir.), ao lado de Pogetti
Frustrada a operação para captar pelo menos US$ 1 bilhão no mercado de capitais para financiar seu crescimento, a Copersucar, maior comercializadora de açúcar e álcool do país, mantém, resignada, seu plano "B" de investir com dívida e capital próprio. O programa vai demandar R$ 2 bilhões para projetos de infraestrutura e logística até 2015. Para os próximos 12 meses, o orçamento contempla investir R$ 300 milhões.
Entre os projetos está a construção de um etanolduto por meio da Logum, empresa da qual a Copersucar é sócia, a conclusão da primeira fase de expansão do terminal de açúcar do porto de Santos (SP), de 5 milhões para 8 milhões de toneladas, e a construção de um terminal de tancagem em Paulínia (SP) com capacidade para armazenar 400 milhões de litros de etanol, que será um ponto de recebimento e distribuição para os mercados interno e externo.
Em torno de 70% dos R$ 300 milhões serão financiados com linhas de longo prazo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o restante, com dinheiro próprio. "Os planos continuam sem o IPO, mas com ele, poderíamos acelerar os já existentes e aproveitar outras oportunidades em logística para as quais já estamos com o radar ligado", lamenta Paulo Roberto de Souza, CEO da Copersucar.
Aumentar o endividamento também não é algo apreciado internamente na empresa. Atualmente, a relação entre dívida líquida (R$ 961 milhões) e Ebitda - lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (R$ 407 milhões) está em 2,36 vezes, em linha com que os grandes grupos do setor sucroalcooleiro vinham registrando antes de fazerem parcerias estratégicas.
Diante de um Ebitda que dobrará no próximo ano para R$ 800 milhões, prevê a empresa, essa relação com a dívida líquida vai subir para cerca de 2,7 vezes com o acréscimo de dívida de R$ 300 milhões, segundo Souza.
Ainda que em níveis técnicos aceitáveis, elevar endividamento não é algo desejado pelos acionistas da Copersucar, que são conservadores em sua política de riscos. Por isso, o mercado acredita que até 2015 a empresa deve buscar alternativa para financiar esse investimento total de R$ 2 bilhões.
Apesar da desistência do IPO, motivada pela conjuntura negativa do mercado, abrir capital não saiu do radar da companhia, diz Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da Copersucar. Foram quatro meses de trabalhos e gastos de R$ 3 milhões com auditorias e advogados para explicar a mais de 200 investidores que aplicam recursos no agronegócio mundial um modelo de negócio incomum. A Copersucar é uma trading que tem como sócios seus fornecedores, ou seja, as usinas de açúcar e etanol.
Essas unidades são regidas por um contrato de duração de 10 anos que, a partir do quinto ano, é renovado automaticamente por mais cinco anos. Há uma cláusula que prevê o aviso antecipado de cinco anos para sua rescisão. Assim, a partir do sexto ano ele terá vigência até o 11º ano, e assim sucessivamente, caso não haja o pré-aviso. Em caso de descumprimento, há multa de 3% sobre a receita bruta, penalidade que tem que ser paga por ano durante todo o período em que vigoraria o contrato.
Nesse acordo, as usinas fornecem 100% da produção de açúcar e etanol. Para definir o preço, o volume total produzido é dividido por 12, para distribuí-lo ao longo do ano, e é aplicada mês a mês a cotação média Esalq. "Não negociamos preço com os sócios. Ele já é pré-definido", detalha Pogetti.
Mas as sócias não se mantêm presas pelo contrato, diz Souza. Há, na avaliação dele, vantagens que minimizam rotatividade de sócias. Além de dispensar investimentos e infraestrutura próprias de comercialização e logística, as sócias recebem ao fim da safra os dividendos resultantes dos ganhos de comercialização e logística.
Desde 2009, seu primeiro ano como S.A., a Copersucar distribui anualmente às usinas sócias dividendos equivalentes a um valor 7% acima do preço médio Esalq. Quando era uma cooperativa, esse percentual - no sistema cooperativo chamado de "sobras" - foi historicamente entre 4% e 5%.
Essas margens, esclarece Pogetti, não podem ser comparadas com as de usinas sucroalcooleiras, que ficam entre 25% e 30% (Ebitda). Mas também, continua o executivo, não demanda o mesmo volume de investimentos dessa indústria, tampouco sofre com riscos climáticos e oscilações de preços do açúcar e do etanol. "Se o preço está baixo é um prejuízo da usina, assim como se está alto, é um lucro dela. A margem da Copersucar vem da negociação acima do preço Esalq e da eficiência logística", explica Pogetti.
No entanto, pondera ele, para obter retorno de 25% de usinas com o porte que atingirão as sócias da Copersucar em 2015 (200 milhões de toneladas de cana), o investidor precisa aplicar em torno de US$ 30 bilhões. "Para ter o retorno de 7% no modelo Copersucar, esse valor cai para US$ 1,5 bilhão, que é o investimento projetado para atingirmos sócios com 200 milhões de toneladas de cana".
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